Portugal e a Segunda Guerra Mundial
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Portugal e a Segunda Guerra Mundial
Decorridos apenas alguns meses sobre o fim da guerra civil espanhola iniciou-se a Segunda Guerra Mundial: em 1 de Setembro de 1939 o exército alemão invadiu a Polónia; a Inglaterra e a França ligadas à Polónia por alianças recentes declararam guerra à Alemanha dois dias depois. Em Lisboa o doutor Salazar recebeu os embaixadores da Alemanha e da Inglaterra e mandou publicar uma nota oficiosa na imprensa: "Felizmente os deveres da nossa aliança com a Inglaterra, que não queremos eximir-nos a confirmar em momento tão grave, não nos obrigam a abandonar nesta emergência o dever de neutralidade". Tanto a Alemanha como a Inglaterra agradeceram os termos dessa nota. A nossa ajuda na guerra não tinha qualquer valor, ao passo que as boas relações na paz podiam ser úteis a ambas as partes.
Dentro do país a grande maioria da opinião era de simpatia pela causa dos aliados, que se entendia representarem na Europa a liberdade e a democracia. Muito mais restrito era o setor dos "germanófilos", que viam na Alemanha a única barreira contra o comunismo. Os adversários do Governo consideravam que a neutralidade portuguesa favorecia os alemães, em especial pela autorização de exportação de volfrâmio. A evolução da guerra, com o esmagamento da frente francesa, trouxe o exército alemão até à fronteira dos Pirenéus, onde chegaram a estar dez divisões alemãs. A situação tornou-se então melindrosa, porque se previa que Hitler quisesse dar um golpe no poderio inglês atacando Gibraltar.
Numa tal situação, a Espanha (ideologicamente favorável à Alemanha nazi) poderia sair da neutralidade, para se apoderar de Gibraltar, e os ingleses exigiriam servir-se de Portugal para as operações militares. Por outro lado, e no caso que chegou a considerar-se muito provável da queda de Gibraltar, os aliados precisariam de utilizar as ilhas dos Açores como bases aeronavais. O papel do Governo português era o de conservar perante este quadro não só a posição de neutralidade mas também a atitude assumida de aliado da Inglaterra. O governo dos Estados Unidos fez várias pressões no sentido de lhe ser permitida a instalação nos Açores, mas o Governo português recusou os pedidos e reforçou as guarnições militares das ilhas, chegando a dispor ali de forças consideráveis, que tornariam impossível uma ocupação sem hostilidades; ora, no caso de hostilidades, o Governo português dizia que a aliança com a Inglaterra seria invocada. Isto é, o Governo de Lisboa defendia-se da América com a ameaça de pedido de ajuda inglesa. O assunto, que está hoje bem definido e documentado, acabou por ser resolvido no Verão de 1943, quando a Alemanha já se encontrava absorvida pela campanha da Rússia, e uma invasão na Península não era tão provável. O embaixador inglês em Lisboa apresentou por escrito o pedido de concessão de facilidades militares à Inglaterra nas ilhas dos Açores, constando expressamente do pedido que ele era feito ao abrigo da aliança existente entre os dois países. Os preparativos foram feitos em grande sigilo. No dia 8 de Outubro de 1943, no momento em que se iniciava o desembarque das forças britânicas, a notícia foi transmitida ao embaixador da Alemanha em Lisboa. Receou-se uma retaliação alemã, e Lisboa chegou a viver noites de grande inquietação, com black-out obrigatório e tiras de papel nas janelas para evitar o estilhaçar dos vidros. Mas a Alemanha limitou o seu protesto a uma nota diplomática. A evolução da guerra, que então atingiu violência terrível, era já no sentido da vitória dos aliados: pouco antes os exércitos americanos desembarcavam em Nápoles, Mussolini era deposto e preso e a Itália declarava a guerra à Alemanha.
A guerra termina com o esmagamento completo das forças alemãs. Em 30 de Abril de 1945 Hitler suicidou-se em Berlim, quando o exército russo já estava na cidade. Esse incidente vai provocar o último episódio de guerra diplomática portuguesa: as embaixadas portuguesas mandam pôr bandeiras a meia haste, porque querem cumprir até ao fim o ritual de neutralidade geométrica. E, se à luz dos factos, Hitler era o inimigo e a fera a abater, as ficções jurídicas apresentavam-no como chefe de Estado de uma nação com a qual Portugal mantinha relações diplomáticas. O resultado deste rigorismo diplomático foi desastroso. As bandeiras causaram indignações e os embaixadores e as embaixadas foram cobertos de insultos. Mas o episódio simboliza bem o comportamento de Portugal no clima dramático do pós-guerra: prosseguir a sua caminhada histórica como se o mundo não tivesse mudado.
Dentro do país a grande maioria da opinião era de simpatia pela causa dos aliados, que se entendia representarem na Europa a liberdade e a democracia. Muito mais restrito era o setor dos "germanófilos", que viam na Alemanha a única barreira contra o comunismo. Os adversários do Governo consideravam que a neutralidade portuguesa favorecia os alemães, em especial pela autorização de exportação de volfrâmio. A evolução da guerra, com o esmagamento da frente francesa, trouxe o exército alemão até à fronteira dos Pirenéus, onde chegaram a estar dez divisões alemãs. A situação tornou-se então melindrosa, porque se previa que Hitler quisesse dar um golpe no poderio inglês atacando Gibraltar.
Numa tal situação, a Espanha (ideologicamente favorável à Alemanha nazi) poderia sair da neutralidade, para se apoderar de Gibraltar, e os ingleses exigiriam servir-se de Portugal para as operações militares. Por outro lado, e no caso que chegou a considerar-se muito provável da queda de Gibraltar, os aliados precisariam de utilizar as ilhas dos Açores como bases aeronavais. O papel do Governo português era o de conservar perante este quadro não só a posição de neutralidade mas também a atitude assumida de aliado da Inglaterra. O governo dos Estados Unidos fez várias pressões no sentido de lhe ser permitida a instalação nos Açores, mas o Governo português recusou os pedidos e reforçou as guarnições militares das ilhas, chegando a dispor ali de forças consideráveis, que tornariam impossível uma ocupação sem hostilidades; ora, no caso de hostilidades, o Governo português dizia que a aliança com a Inglaterra seria invocada. Isto é, o Governo de Lisboa defendia-se da América com a ameaça de pedido de ajuda inglesa. O assunto, que está hoje bem definido e documentado, acabou por ser resolvido no Verão de 1943, quando a Alemanha já se encontrava absorvida pela campanha da Rússia, e uma invasão na Península não era tão provável. O embaixador inglês em Lisboa apresentou por escrito o pedido de concessão de facilidades militares à Inglaterra nas ilhas dos Açores, constando expressamente do pedido que ele era feito ao abrigo da aliança existente entre os dois países. Os preparativos foram feitos em grande sigilo. No dia 8 de Outubro de 1943, no momento em que se iniciava o desembarque das forças britânicas, a notícia foi transmitida ao embaixador da Alemanha em Lisboa. Receou-se uma retaliação alemã, e Lisboa chegou a viver noites de grande inquietação, com black-out obrigatório e tiras de papel nas janelas para evitar o estilhaçar dos vidros. Mas a Alemanha limitou o seu protesto a uma nota diplomática. A evolução da guerra, que então atingiu violência terrível, era já no sentido da vitória dos aliados: pouco antes os exércitos americanos desembarcavam em Nápoles, Mussolini era deposto e preso e a Itália declarava a guerra à Alemanha.
A guerra termina com o esmagamento completo das forças alemãs. Em 30 de Abril de 1945 Hitler suicidou-se em Berlim, quando o exército russo já estava na cidade. Esse incidente vai provocar o último episódio de guerra diplomática portuguesa: as embaixadas portuguesas mandam pôr bandeiras a meia haste, porque querem cumprir até ao fim o ritual de neutralidade geométrica. E, se à luz dos factos, Hitler era o inimigo e a fera a abater, as ficções jurídicas apresentavam-no como chefe de Estado de uma nação com a qual Portugal mantinha relações diplomáticas. O resultado deste rigorismo diplomático foi desastroso. As bandeiras causaram indignações e os embaixadores e as embaixadas foram cobertos de insultos. Mas o episódio simboliza bem o comportamento de Portugal no clima dramático do pós-guerra: prosseguir a sua caminhada histórica como se o mundo não tivesse mudado.
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Re: Portugal e a Segunda Guerra Mundial
Salazar, Lisboa e a 2.ª Guerra Mundial
Orban89- Historiador Profissional
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