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Pensamentos de Nietzsche

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Mensagem por Fundador 5th março 2012, 21:32

O sentimento de poder

Ao fazer o bem e mal, exercemos o nosso poder sobre aqueles a quem se é forçado a fazê-lo sentir; porque o sofrimento é um meio muito mais sensível, para esse fim, do que o prazer: o sofrimento procura sempre a sua causa enquanto o prazer mostra inclinação para se bastar a si próprio e a não olhar para trás. Ao fazer bem ou ao desejarmos o bem exercemos o nosso poder sobre aqueles que, de uma maneira ou de outra, estão já na nossa dependência (quer dizer que se habituaram a pensar em nós como nas suas causas); queremos aumentar o seu poder porque assim aumentamos o nosso, ou queremos mostrar-lhes a vantagem que há em estar em nosso poder; ficarão mais satisfeitos com a sua situação e mais hostis aos inimigos do nosso poder, mais prontos a combatê-los. O facto de fazermos sacrifícios para fazer o bem ou o mal não altera em nada o valor definitivo dos nossos atos; mesmo se arriscarmos a nossa vida, como o mártir pela sua igreja, é um sacrifício que fazemos à nossa necessidade de poder ou a fim de conservar o nosso sentimento de poder.

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Mensagem por Fundador 5th março 2012, 21:33

Modos de construir uma personalidade

Modos de construir uma personalidade ou os oito problemas principais: queremos simplificar-nos ou diversificar-nos?

Queremos ser mais felizes ou mais indiferentes à felicidade e à desgraça? Queremos ficar mais satisfeitos connosco ou mais exigentes e mais impiedosos? Queremos tornar-nos mais amigáveis, mais indulgentes, mais humanos ou mais desumanos?

Queremos ser mais prudentes ou mais impulsivos?

Queremos atingir um fim ou evitar todos os fins – como, por exemplo, faz o filósofo para o qual toda a espécie de fins tresanda, despropositadamente, a limites impostos, mesquinhez, prisão, toleima? Queremos ser mais respeitados e mais importantes ou mais desconsiderados? Queremos tornar-nos tiranos ou impostores? Pastores ou carneiros?

A Vontade de Poder

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Mensagem por Fundador 5th março 2012, 21:35

O amor ao próximo

Vós outros andais muito solícitos em redor do próximo e a vossa solicitude exprime-se em belas palavras. Mas eu vos digo: o vosso amor ao próximo é apenas o vosso mau amor por vós próprios. É para fugirdes de vós que andais em volta do próximo e quereríeis converter isso numa virtude; mas pus a claro o vosso «desinteresse». (…) Não suportais a vossa própria companhia e não vos amais o suficiente; procurais então seduzir o próximo com o vosso amor e dourar-vos com o seu erro.

Eu quisera que todos os próximos e aqueles que se seguem se vos tornassem intoleráveis: assim teríeis de extrair de vós mesmos o amigo de coração transbordante.

Convocais uma testemunha quando quereis dizer bem de vós; e logo que a haveis induzido a pensar bem da vossa pessoa, vós mesmos pensais bem da vossa pessoa.

É mentiroso não só o que fala contra a sua consciência, mas também o que fala contra a sua inconsciência. Ora é assim que falais de vós no trânsito diário e que enganais o próximo e a vós mesmos.

Assim fala o louco: «O convívio dos homens estraga o caráter, sobretudo quando não tem caráter.»

Um procura o próximo porque se procura, o outro porque anseia perder-se. O vosso mau amor por vós próprios converte a vossa solidão num cativeiro.

Assim Falou Zaratustra

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Mensagem por Fundador 5th março 2012, 21:36

O homem não foge da dor

Não é verdade que o homem procure o prazer e fuja da dor. São de tomar em conta os preconceitos contra os quais invisto. O prazer e a dor são consequências, fenómenos concomitantes. O que o homem quer, o que a menor partícula de um organismo vivo quer, é o aumento de poder: é em consequência do esforço em consegui-lo que o prazer e a dor se efetivam; é por causa dessa mesma vontade que a resistência a ela é procurada, o que indica a busca de alguma coisa que manifeste oposição.

A dor, sendo entrave à vontade de poder do homem, é portanto um acontecimento normal – a componente normal de qualquer fenómeno orgânico. E o homem não procura evitá-la, pois tem necessidade dela, já que qualquer vitória implica uma resistência vencida.

Tome-se como exemplo o mais simples dos casos, o da nutrição de um organismo primário; quando o protoplasma estende os pseudópodes para encontrar resistências, não é impulsionado pela fome, mas pela vontade de poder; acima de tudo, ele intenta vencer, apropriar-se do vencido, incorporá-lo a si. O que se designa por nutrição é pois um fenómeno consecutivo, uma aplicação da vontade original de devir mais forte.

Em tudo isto, a dor não só tem por consequência necessária a diminuição da sensação de poder, como até serve, na maioria dos casos, como excitante da mesma sensação de poder, sendo o obstáculo um stimulus dessa vontade de poder.

A Vontade de Poder

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Mensagem por Fundador 8th março 2012, 15:34

A Grande Saúde

Nós, gente nova, sem nome, mal compreensíveis, nós, seres de um porvir ainda desconhecido, precisamos, para um novo escopo, também de um novo meio, isto é, de uma nova saúde, mais forte, sagaz, tenaz, ousada, mais afoita do que hajam sido as saúdes até agora.

Aquele cuja alma tem sede de experimentar o círculo inteiro dos valores e das maravilhas até hoje e de navegar ao redor de todas as costas deste ideal "mar interno", aquele que das aventuras da própria experiência quer saber qual a coragem de um conquistador e de um escultor do ideal, como de um artista, de um sábio, de um legislador, de um douto, de um piedoso, de um asceta de velho estilo: carece este, antes do mais, da grande saúde — tal qual não só se possui, mas que também continuamente se conquista e se deve conquistar, porque está sempre a dar e é a que deve dar.

E agora, após que nos distanciamos tanto, nós, argonautas do ideal, mais corajosos do que seja razoável e bastantes vezes náufragos e em condições más, perigosamente sadios, parece-nos que, por prémio, tenhamos uma outra terra inexplorada à nossa frente, uma terra cujos confins jamais alguém avistou, um além de todos os países e recantos do ideal tidos até hoje, um mundo tão exuberante de belo, de estranho, de coisas misteriosas, temíveis e divinas, que a nossa curiosidade e o nosso desejo de posse são transportados para fora de si, — ah! como doravante nada mais nos satisfaz!

Como poderíamos nós, depois de tal olhar, com tal fome ardente no cérebro e na consciência, contentarmo-nos ainda com o homem atual? Bastante mal: porém é inevitável que lhe aguardemos as esperanças e as suas metas mais dignas com uma seriedade difícil de sustentar, embora até nem mesmo as guardemos.

Temos à nossa frente outro ideal, um ideal maravilhoso, tentador, cheio de perigos, ao qual não poderíamos persuadir ninguém, para que não outorguemos a alguém assim facilmente o direito: o ideal de um espírito que ingenuamente, isto é, involuntariamente e por exuberância e força impetuosa, se divirta com tudo quanto se chamou até hoje santo, bom, intangível, divino; pelo qual a coisa mais alta em que o povo acha a bom preço a medida do próprio valor, ou seja perigo, decadência, humilhação, ou pelo menos alívio, cegueira, significariam esquecimento temporário de si; o ideal de bem-estar e bem-querer humanos e sobre-humanos, que muitas vezes parecerá não humano; por exemplo quando se defrontarem a total seriedade terrena que se teve até o momento, as solenidades de atitudes, as palavras, o som, a moral, a tarefa como a sua paródia involuntária e visível — com a grande seriedade e esta se erigir, põe-se enfim o ponto de interrogação, evola-se o destino de uma alma, o bisturí se move, a tragédia começa...

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 15:59

Toda a comunidade nos torna vulgares

Viver com uma imensa e orgulhosa calma; sempre para além. Ter e não ter, arbitrariamente, os seus afetos, o seu pró e contra, condescender com eles por umas horas; montar sobre eles como em cavalos, frequentemente como em burros; é que se deve saber aproveitar a sua estupidez tal como a sua fogosidade. Conservar os seus trezentos primeiros planos; também os óculos escuros; pois há casos em que ninguém nos deve olhar nos olhos e muito menos ainda nas nossas «razões». E escolher, para companhia, aquele vício matreiro e sereno, a cortesia. E ficar senhor das suas quatro virtudes, a coragem, a perspicácia, a simpatia, a solidão. Pois a solidão é entre nós uma virtude, como tendência e impulso sublimes do asseio que adivinha como, no contato de homem para homem – «em sociedade» – tudo é, inevitavelmente, sujo. Toda a comunidade nos torna de qualquer modo, em qualquer parte, em qualquer altura, «vulgares».

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:00

Pretensos graus de verdade

Uma das frequentes conclusões falsas é esta: como alguém é verdadeiro e sincero para connosco, pois diz a verdade. Assim, a criança acredita nos juízos dos pais, o cristão nas afirmações do fundador da Igreja. Do mesmo modo, não se quer admitir que tudo aquilo que os homens, com sacrifício da felicidade e da vida, defenderam em séculos anteriores, nada mais era do que erros: talvez se diga que tenham sido graus da verdade. Mas, no fundo, acha-se que se alguém acreditou honestamente em alguma coisa e combateu e morreu pela sua crença, seria, contudo, por de mais injusto se, efetivamente, apenas um erro o tivesse inspirado. Um caso assim parece contradizer a eterna justiça; por isso, o coração das pessoas sensíveis decreta constantemente contra a sua cabeça a seguinte norma: entre ações morais e juízos intelectuais tem de haver um nexo necessário. Infelizmente, não é assim, pois não há justiça eterna.

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:03

A sinceridade habitual não passa de uma máscara

Toda a ação é necessariamente mal conhecida. Para que não expressemos contradições de momento a momento, precisamos de uma máscara – como acontece se quisermos ser sedutores. Mas é preferível conviver com os que mentem conscientemente, porque esses também sabem ser verdadeiros conscientemente. Porque, a sinceridade habitual não passa de uma máscara, da qual não temos consciência.

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:04

Querer vingar-se e vingar-se

Ter um pensamento de vingança e realizá-lo significa apanhar um forte acesso de febre, mas que passa; ter, porém, um pensamento de vingança, sem força nem coragem para o realizar, significa trazer consigo um padecimento crónico, um envenenamento do corpo e da alma. A moral, que só olha para as intenções, avalia de igual maneira ambos os casos; em geral, considera-se o primeiro caso como pior (por causa das más consequências que o ato de vingança talvez traga consigo). Ambas as avaliações são de vistas curtas.

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:05

O ponto da sinceridade no embuste

Em todos os grandes embusteiros há um fenómeno digno de nota ao qual eles devem o seu poder. No próprio ato do embuste, entre todos os preparativos, com o horripilante na voz, na expressão, nos gestos, no meio da eficiente encenação, acomete-os a crença em si próprios: é esta que, tão milagrosa e fascinante, fala então aos circunstantes. Os fundadores das religiões distinguem-se desses grandes embusteiros por não saírem deste estado de auto-ilusão: ou, muito raramente, lá têm aqueles momentos mais lúcidos, e que a dúvida os subjuga; mas, habitualmente, consolam-se, atribuindo esses momentos mais lúcidos ao maligno Satanás. O engano de si próprio tem de estar presente, para que estes como aqueles façam um efeito grandioso. Pois as pessoas acreditam na verdade daquilo que, visivelmente, é crido com veemência.

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:06

A aptidão

Numa humanidade tão altamente desenvolvida como é a atual, cada um, por natureza, recebe em dote acesso a muitos talentos. Cada qual tem talento inato, mas só a poucos é dado por nascença e por meio da educação o grau de tenacidade, persistência e energia, para que o indivíduo se torne, realmente, um talento, para que, portanto, venha a ser aquilo que é; ou seja, traduza isso em obras e ações.

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:07

O princípio fundamental da sociedade

Abster-se reciprocamente de ofensas, da violência, da exploração, adaptar a sua própria vontade à de outro: tal coisa pode, num certo sentido tosco, tornar-se bom costume entre indivíduos, se existirem condições para tal (a saber, semelhança efetiva entre as suas quantidades de força e entre as suas escalas de valores e a homogeneidade dos mesmos dentro de um só organismo). Logo que, porém, se quisesse alargar este princípio, concebendo-o até como princípio fundamental da sociedade, revelar-se-ia imediatamente como aquilo que é: vontade de negação da vida, princípio de dissolução e de decadência. Aqui é preciso pensar-se bem profundamente e defender-se de toda a fraqueza sentimentalista: a própria vida é essencialmente apropriação, ofensa, sujeição daquilo que é estranho e mais fraco, opressão, dureza, imposição de formas próprias, incorporação e, pelo menos, na melhor das hipóteses, exploração, mas para que empregar palavras a que, desde há muito, se deu uma intenção difamadora?

Também aquele organismo dentro do qual, conforme acima se admitiu, os indivíduos se tratam como iguais – e tal se dá em toda a aristocracia sã –, tem de fazer, no caso de ser um organismo vivo e não moribundo, ao enfrentar outros organismos, tudo o que os indivíduos dentro dele se abstêm de fazer entre si: terá de ser a vontade de poder personificada, quererá crescer, expandir-se, atrair a si, obter preponderância, não por qualquer moralidade ou imoralidade, mas porque vive e porque a vida é cabalmente vontade de poder.

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:08

Aos realistas

Ó seres frios que vos sentis tão couraçados contra a paixão e a quimera e que tanto gostaríeis de fazer da vossa doutrina um adorno e um objeto de orgulho, dais-vos o nome de realistas e dais a entender que o mundo é verdadeiramente tal como vos aparece; que sois os únicos a ver a verdade isenta de véus e que sois vós talvez a melhor parte dessa verdade… ó queridas imagens de Sais! Mas não sereis ainda vós próprios, mesmo no vosso estado mais despojado, seres surpreendentemente obscuros e apaixonados se vos compararmos aos peixes? Não sereis ainda demasiado parecidos com artistas apaixonados? E o que vem a ser a «realidade» aos olhos de um artista apaixonado? Ainda não deixaste de julgar as coisas como fórmulas que têm a sua origem nas paixões e nos complexos amorosos dos séculos passados! A vossa frieza está ainda cheia de uma secreta e inextirpável embriaguez!

O vosso amor pela «realidade», se for necessário escolher-vos um exemplo, que coisa antiga! Que velho «amor»! Não há sentimento, sensação, que não contenham uma certa dose, que não tenham sido, também, trabalhados e alimentados por qualquer exagero da imaginação, por um preconceito, uma sem-razão, uma incerteza, um receio, que dizer mais? Vede esta montanha, este mago. O que haverá de «real» neles? Experimentai tirar-lhes as nossas fantasmagorias, aquilo que os homens lhes acrescentaram, homens positivos! Ah, se fossem capazes disso! Se pudésseis esquecer a vossa origem, o vosso passado, as vossas escolas preparatórias… tudo o que há em vós de humano e de animal! Não há para nós nenhuma «realidade» – e o mesmo sucede convosco, homens positivos –, estamos longe de sermos tão estranhos uns para os outros como pensais, e a nossa boa vontade em ultrapassar a embriaguez é talvez tão respeitável como a crença que tendes de serdes incapazes de qualquer embriaguez.

A Gaia Ciência

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:10

Os ciúmes das nossas virtudes

Meu irmão, és feliz se só tens uma virtude e não várias: pois passarás mais facilmente a ponte.

É uma distinção ter muitas virtudes, mas é sorte bem dura; e não são poucos os que se têm ido matar ao deserto, cansados de serem combate e campo de batalha das suas próprias virtudes.

Meu irmão, serão um mal a guerra e as batalhas? Mas são males necessários, e é necessário que as tuas virtudes tenham ciúmes umas das outras e estejam desconfiadas umas das outras e se caluniem entre si.

Vê, cada uma das tuas virtudes é ávida de tudo possuir, cada uma quer que a totalidade da tua alma lhe sirva de arauto, quer toda a tua força na cólera, no ódio e no amor.

Cada uma das tuas virtudes é ciosa das outras e o ciúme é uma coisa terrível. As próprias virtudes podem morrer de ciúme.

O que está cercado pela chama do ciúme acaba, como o escorpião, por voltar contra si mesmo o seu aguilhão envenenado.

Ai!, meu irmão, nunca viste uma virtude caluniar-se e apunhalar-se a si própria?

O homem é um ser que deve superar-se, por isso necessitas amar as tuas virtudes – porque por elas morrerás.

Assim Falou Zaratustra

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:11

O supremo instinto do asseio

O que separa mais profundamente duas pessoas é um sentido e grau diferentes de asseio. Para que serve toda a honestidade e utilidade mútua, para que serve toda a boa vontade de uns para os outros: por fim é sempre o mesmo, «eles não se podem cheirar»! O supremo instinto do asseio coloca quem o tiver, na solidão mais estranha e perigosa, como um santo: pois isso precisamente é santidade – a suprema espiritualização desse instinto. Qualquer saber comum de uma indescritível felicidade do banho, qualquer ardor e sede que impelem a alma constantemente da noite para a manhã e do turvo, da «tribulação» para o claro, resplandecente, profundo, subtil: do mesmo modo que tal tendência distingue – pois é uma tendência aristocrática –, também separa. A compaixão do santo é a compaixão com a sujidade do humano, demasiadamente humano. E há graus e alturas em que a própria compaixão é sentida, por ele, como contaminação, como sujidade…

Para Além do Bem e do Mal

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:12

Reclamar com espalhafato

Pelo facto de uma situação de crise (por exemplo, os vícios de uma administração, a corrupção e o favoritismo em agremiações políticas ou eruditas) ser descrita com forte exagero, essa descrição perde, na verdade, o seu efeito junto das pessoas sensatas, mas atua tanto mais fortemente sobre as que o não são (as quais teriam permanecido indiferentes ante uma exposição bem comedida). Como estas, porém, constituem uma significativa maioria e albergam em si uma maior força de vontade e um gosto mais impetuoso pela ação, esse exagero torna-se pretexto para inquéritos, punições, promessas, reorganizações. É nessa medida que é rentável descrever situações críticas em termos exagerados.

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:13

Virtudes inconscientes

Todas as qualidades pessoais de que um homem tem consciência – sobretudo quando supõe que os que o rodeiam as vêem, que saltam aos olhos dos outros – estão submetidas a leis da evolução completamente diferentes daquelas que regem as qualidades que ele conhece mal ou não conhece, as qualidades que a sua finura dissimula ao observador mais subtil e que parecem entrincheirar-se atrás da cortina do nada. Assim como a delicada gravura que esculpe a escama da serpente: seria um erro ver nela ou uma arma ou um ornamento, porque só é possível descobri-la ao microscópio, por consequência com um olho cuja potência é devida a tais artifícios que os animais, para os quais ela teria por sua vez servido de arma ou de ornamento, não possuem semelhante!

As nossas qualidades morais visíveis e, nomeadamente, aquelas que nós acreditamos serem tais, seguem o seu caminho; e as do mesmo nome que se não vêem, que não podem portanto servir-nos de arma ou de ornamento, seguem assim o seu caminho, provavelmente completamente diferentes, decoradas de linhas, de finuras e de esculturas, que poderiam talvez dar prazer a um deus munido com um microscópio divino. Eis por exemplo o nosso zelo, a nossa ambição, a nossa perspicácia: temo-los, toda a gente os conhece; mas não possuímos além disso o nosso zelo, a nossa ambição, a nossa perspicácia, escamas de réptil para as quais ainda se não encontrou nenhum microscópio? E eis os amigos da moralidade instintiva a gritar: «Bravo! Ao menos admite a possibilidade de virtudes instintivas!... Isso não basta!» Oh!, como vos basta pouco!

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:14

Os eternos descontentes

«Para que serve viver? Tudo é vão! Viver é trilhar palha. Viver é consumir-se sem se aquecer.»

Estas cantilenas gastas passam ainda por sabedoria; quanto mais velha mais cheira a bafio, mais honrada é. A podridão é também um título de nobreza.

Para as crianças é que é bom falar assim! Receiam o lume porque nele se queimaram. Há muita infantilidade nos antigos livros da sabedoria! E o que trilha eternamente palha, com que direito troça de quantos manejam o mangal? Seria preciso amordaçar tais loucos, os que se sentam à mesa sem levar nada, nem sequer um bom apetite, e que blasfemam em seguida: «Tudo é vão.»

Mas comer bem e beber bem, ó meus amigos, é uma arte que não tem nada de vão. Quebrai, eu vos conjuro, quebrai as tábuas desses eternos descontentes!

Assim Falou Zaratustra

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:15

A vida não me desapontou

Não, a vida não me desapontou! Pelo contrário, todos os anos a acho melhor, mais desejável, mais misteriosa… desde o dia em que vejo em a grande libertadora, a ideia de que a vida podia ser experiência para aqueles que procuram saber, e não dever, fatalidade, duplicidade!... Quanto ao próprio conhecimento, seja ele para outros aquilo que quiser, um leito de repouso, ou o caminho para um leito de repouso, ou distração ou vagabundagem, para mim é um mundo de perigos, é um universo de vitórias onde os sentimentos heróicos têm a sua sala de baile. «A vida é um meio de conhecimento»; quando se tem este princípio no coração, pode viver-se não somente corajoso mas feliz, pode-se rir alegremente! E quem, de resto, se ouvirá, portanto, a bem rir e a bem viver se não for primeiramente capaz de vencer e de guerrear?

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:16

A gravidade e a seriedade nem sempre andam juntas

Tomar a verdade a sério! De quantas maneiras diferentes não entendem os homens esta frase! São as mesmas opiniões, as mesmas formas de exame e de demonstração que um pensador considera com uma ligeireza quando as aplica por si próprio – sucumbiu-lhes para sua vergonha, neste ou naquele momento da sua vida –, são essas mesmas opiniões, esses mesmos métodos, que podem dar a um artista, quando com eles se choca e com eles vive algum tempo, a consciência de ter sido dominado pela profunda gravidade da verdade, de ter mostrado – coisa espantosa –, ainda que artista, a mais séria necessidade do contrário da aparência.

É assim que acontece que uma pomposa gravidade revele precisamente a ausência de seriedade com que um espírito que se contenta com pouco se tenha debatido até então no domínio do conhecimento… Não somos nós sempre traídos por aquilo que consideramos importante? A nossa gravidade mostra onde se encontram os nossos pesos e os casos em que temos falta deles.

A Gaia Ciência

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:18

A necessidade do próximo

Nós só sentimos agrado para com os semelhantes – ou seja, pelas imagens de nós próprios – quando sentimos comprazimento connosco. E quanto mais estamos contentes connosco, mais detestamos o que nos é estranho: a aversão pelo que nos é estranho está na proporção da estima que temos por nós. É em consequência dessa aversão que nós destruímos tudo o que é estranho, ao qual assim mostramos o nosso distanciamento. Mas o menosprezo por nós próprios pode levar-nos a uma compaixão geral para com a humanidade e pode ser utilizado, intencionalmente, para uma aproximação com os demais.

Temos necessidade do próximo para nos esquecermos de nós mesmos: o que leva à sociabilidade com muita gente.

Somos dados a supor que também os outros têm desgosto com o que são; quando isto se verifica, então receberemos uma grande alegria: afinal, estamos na mesma situação.

E, tal-qualmente nos vemos forçados a suportar-nos, apesar do desgosto que temos com aquilo que somos, assim nos habituamos a suportar os nossos semelhantes.

Assim, nós deixamos de desprezar os outros; a aversão para com eles diminui e dá-se a reaproximação.

Eis porque, em virtude da doutrina do pecado e da condenação universal, o homem se aproxima de si mesmo. E até aqueles que detêm efetivamente o poder são de considerar, agora como dantes, sob este mesmo aspeto: é que, «no fundo, são uns pobres homens».

A Vontade de Poder

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:19

Ser religioso com vantagem

Há pessoas sóbrias e industriosas, em quem a religião está bordada como uma ourela de humanidade superior: essas fazem muito bem em continuar a ser religiosas, isso embeleza-as. Todas as pessoas, que não entendem de um qualquer ofício relacionado com armas – incluindo nas armas a boca e a pena – tornam-se servis: para essa gente, a religião cristã é muito útil, pois o servilismo toma, assim, a aparência de uma virtude cristã e fica espantosamente embelezado. Pessoas, a quem a sua vida quotidiana parece demasiado vazia e monótona, tornam-se facilmente religiosas: isso é compreensível e perdoável; simplesmente, elas não têm direito de exigir religiosidade daqueles para quem a vida quotidiana não decorre vazia e monótona.

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:20

A fragilidade dos valores

Todas as coisas «boas» foram noutro tempo más; todo o pecado original veio a ser virtude original. O casamento, por exemplo, era tido como um atentado contra a sociedade e pagava-se uma multa, por ter tido a imprudência de se apropriar de uma mulher (ainda hoje no Cambodja o sacerdote, guarda dos velhos costumes, conserva o jus primae noctis). Os sentimentos doces, benévolos, conciliadores, compassivos, mais tarde vieram a ser os «valores por excelência»; por muito tempo se atraiu o desprezo e se envergonhava cada qual da brandura, como agora da dureza.

A submissão ao direito: oh!, que revolução de consciência em todas as raças aristocráticas quando tiveram de renunciar à vingança para se submeterem ao direito! O «direito» foi por muito tempo um vetitum, uma inovação, um crime; foi instituído com violência e opróbrio.

Cada passo que o homem deu sobre a Terra custou-lhe muitos suplícios intelectuais e corporais; tudo passou adiante e atrasou todo o movimento, em troca teve inumeráveis mártires; por estranho que isto hoje nos pareça, já o demonstrei na Aurora, aforismo 18: «Nada custou mais caro do que esta migalha de razão e de liberdade, que hoje nos envaidece.» Esta mesma vaidade nos impede de considerar os períodos imensos da «moralização dos costumes» que precederam a história capital e foram a verdadeira história, a história capital e decisiva que fixou o caráter da humanidade. Então a dor passava por virtude, a vingança por virtude, a renúncia da razão por virtude, e o bem-estar passivo por perigo, o desejo de saber por perigo, a paz por perigo, a misericórdia por opróbrio, o trabalho por vergonha, a demência por coisa divina, a conversão por imoralidade e a corrupção por coisa excelente.

Genealogia da Moral

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:21

Moral para psicólogos

Não cultivar uma psicologia de bisbilhoteiro! Nunca observar só por observar! Isso provoca uma óptica falsa, uma perspectiva vesga, algo que resulta forçado e que exagera as coisas. O ter experiências, quando é um querer-ter-experiências, não resulta bem. Na experiência não é lícito olhar para si mesmo, todo o olhar se converte então num «mau-olhado». Um psicólogo nato guarda-se, por instinto, de ver por ver; o mesmo se pode dizer do pintor nato. Este não trabalha jamais «segundo a natureza», encomenda ao seu instinto, à sua câmara escura, o crivar e exprimir o «caso», a «natureza», o «vivido»… Até à sua consciência chega só o universal, a conclusão, o resultado: não conhece esse arbitrário abstrair do caso individual. Que é que resulta quando se procede de outro modo? Quando se cultiva, por exemplo, uma psicologia de bisbilhoteiro, à maneira dos romanciers parisienses, grandes e pequenos? Essa gente anda, por assim dizê-lo, à espreita da realidade, essa gente leva para casa cada noite um punhado de curiosidades… Porém, veja-se o que acaba por sair daí – um montão de borrões, um mosaico no melhor dos casos, e de qualquer forma algo que é o resultado da soma de várias coisas, algo turbulento, de cores berrantes. O pior aqui conseguem-no os Goncourt: não juntam três frases que não causem simplesmente dano à vista, à vista do psicólogo. A natureza, avaliada artisticamente, não é um modelo. Ela exagera, deforma, deixa vazios. A natureza é o acaso. O estudo «segundo a natureza» parece-me um mau sinal: denuncia submissão, debilidade, fatalismo, esse jazer-no-pó ante os petits faits é indigno de um artista inteiro. Ver o que é – isso é próprio de um género distinto de espíritos, dos antiartísticos, dos homens de factos. Há que saber quem se é…

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Mensagem por Fundador 15th março 2012, 16:22

Aonde pode levar a sinceridade

Alguém tinha o mau hábito de se exprimir, de quando em quando, com toda a franqueza acerca dos motivos pelos quais agia e que eram tão bons ou tão maus como os motivos de todas as pessoas. Primeiro, causou escândalo, depois suspeita, pouco a pouco foi terminantemente proscrito e banido da sociedade, até que, por fim, a justiça se recordou de um ser tão abjecto em ocasiões, em que ela não costumava ter olhos ou os fechava. A falta de mutismo quanto ao segredo geral e a irresponsável propensão para ver o que ninguém quer ver – a si próprio – levaram-no à prisão e a uma morte prematura.

Humano, Demasiado Humano

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