Ressentimento em Nietzsche
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Ressentimento em Nietzsche

Segundo Nietzsche, o esquecimento é uma força que promove a vida, sendo até um dos fundamentos da mesma, uma espécie de digestão das impressões que os indivíduos recebem do mundo exterior. A memória surge como uma contra-faculdade, tendo menos valor que o esquecimento. É através da memória que alguns indivíduos, incapazes de se vingarem imediatamente das ofensas recebidas por serem fracos demais para agir, alimentam constantemente as impressões negativas que não são assimiladas pelo organismo. Isto provoca um ressentir constante dessas impressões, que por vezes acabam por parecer mais graves do que a ofensa real que as originou. O indivíduo cai nas garras do ressentimento quando se mostra incapaz de esquecer.
Este ressentir acaba por provocar uma distorção do devir, empobrecendo a realidade, que se mostra cinzenta e sem valor. O indivíduo ressentido quer reparação, quer vingar-se daquilo ou daquela pessoa que o magoou, e assim vive alimentando o ressentimento até este provocar uma degenerescência do seu sistema psico-fisiológico. Diz Nietzsche: "O ressentimento, que é em sumo grau prejudicial ao doente, está-lhe contra-indicado: infelizmente é a sua inclinação mais natural. O conceito é de Buda, fisiologista profundo. A sua «religião», que antes devia chamar-se «higiene», para não a confundir com coisa tão lamentável como é o cristianismo, faz depender a sua eficácia da vitória sobre o ressentimento. Libertar a alma do ressentimento, é o primeiro passo para a cura." (Ecce Homo, Porque Sou Tão Sábio, 6, p. 34).
A incapacidade de esquecer está intimamente ligada à incapacidade de aceitar o mundo tal como ele é, de aceitar os inúmeros pontos de vista distintos sobre um mesmo fenómeno, de aceitar a diferença. Ao interpretar um determinado ponto de vista como a «verdade» ou o «sentido do mundo», o indivíduo ressentido torna-se incapaz de aceitar outros pontos de vista, passando a agir como um órgão de reação. Pretende defender a sua «verdade» contra tudo e contra todos, e no processo alimenta o seu ódio contra tudo e contra todos que a rejeitam. Esse ódio é já incapacidade em aceitar as múltiplas interpretações que formam a realidade humana, mas ao não ser descarregado para o exterior torna-se ainda mais doentio: fica entravado no organismo do ressentido e alimenta-se com vinganças imaginárias.
Vemos assim que o ressentimento é a maior ameaça para uma vida potente e vigorosa, é um veneno terrível que deve ser eliminado do organismo pelo próprio indivíduo acometido, através do esquecimento. Permanecer no ressentimento, por seu turno, é o caminho para um organismo decadente: "O despeito, a susceptibilidade doentia, a impotência em vingar-se, a inveja, o ímpeto do ódio, são venenos terríveis, constituindo por certo para o ser esgotado os meios mais perigosos de reagir: disto advém acelerado desgaste da energia nervosa, uma recrudescência das secreções nocivas, por exemplo da bílis no estômago." (Ecce Homo, Porque Sou Tão Sábio, 6, p. 34).
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