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A carta de Johannes Junius

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Mensagem por Fundador 17th março 2011, 17:35

A carta de Johannes Junius Estrapado-300x237
Johannes Junius foi submetido à tortura do estrapado. Neste método simples de tortura, os pulsos da vítima eram amarrados atrás das costas e a corda passada por cima da viga. Ela era então repetidamente içada e largada causando grande dor, processo este que terminaria na deslocação dos ombros. A vítima costumava estar nua e às vezes eram amarrados pesos nos pés para aumentar a dor.

Johannes Junius (1573-1628) foi uma das vítimas da caça às bruxas, uma histeria coletiva que atingiu o auge de 1550 a 1650. Ele escreveu, da prisão, uma carta para a sua filha que coloco neste artigo. Nesta carta, escrita a 24 de julho de 1628, podemos ver um pouco do pensamento distorcido da altura.

Johannes Junius acabou por confessar, sob tortura, ter cometido actos diabólicos, como ter voado num cão preto para sabás de bruxas. Como podem ver, estas confissões loucas só podem ter sido arrancadas por a tortura. Naquele tempo a tortura era considerada como a melhor forma de arrancar a “verdade”, mas poucos percebiam que os métodos de tortura que utilizavam eram tão horríveis, que até um elefante confessaria ser um rato se tivesse de passar por esses tormentos.

Depois de submetido a torturas, Johannes Junius confessou e preferiu morrer na fé católica. Por isso, foi decapitado antes de o seu corpo ser queimado. Somente aqueles que recusavam aceitar o catolicismo e arrepender-se das suas “heresias” é que eram queimados vivos.

A Carta

„Inocente vim para a prisão, inocente fui martirizado, inocente devo morrer. Pois quem vem a esta casa tem de ser um bruxo ou então é por tão longo martirizado até que invente alguma coisa de sua cabeça… Eu pedi aos senhores (à comissão de exame) que pelo amor de Deus, eles ouviram, se tratavam de testemunhos totalmente falsos e que deveriam ser examinados mais cautelosamente e sob juramento; isto porém não foi concedido e eles disseram que eu deveria confessar de bom grado ou o carrasco me coagiria. Eu respondi: Eu jamais reneguei a Deus e jamais virei a fazê-lo, que Deus me livre disso. Eu preferiria aguentar o que fosse.

„Então para o meu pesar veio o carrasco, que Deus do Céu tenha piedade, e me pôs o esmagador de polegares, com ambas as mãos amarradas fazendo sair o sangue pelas minhas unhas de modo que eu não pude utilizar as mãos por quatro semanas, como podes ver pela minha escrita. Eu então me entreguei a Deus em suas cinco santas feridas e disse: “Já que isto diz respeito à honra e ao nome de Deus, que eu não reneguei, eu quero então depositar todo este meu martírio e dor em suas cinco feridas; ele aliviará minhas dores de modo que possa superá-las.” Depois disso me despiram, amarraram-me as mãos nas costas e assim me suspenderam com torturas. Nisto pensei que o Céu e a Terra se acabavam; eles me suspenderam e me deixaram cair oito vezes, me fazendo sentir dores desgraçadas. E tudo isso deu-se comigo nú, pois eles me despiram por completo. Quando então Deus nosso Senhor me ajudou eu pude dizê-los: “Que Deus os perdoe por atacar um homem honesto e inocente; vocês não só o querem privar de seu corpo e alma como também de suas posses.” Então o Doutor Braun disse: “Tu és um malandro. ” Eu disse: “Eu não sou malandro nem nada do tipo e sou tão honesto quanto vós sois. Apenas se isto continuar assim nenhum homem honesto de Bamberg estará a salvo. Nem eu, nem vós, nem qualquer outro.” Então o Doutor disse que não seria atacado pelo Diabo, eu disse: “Eu também não, mas vossas falsas testemunhas e vosso severo martírio, estes são o diabo. Pois vós não deixardes nenhum caminho embora todo o martírio seja suportado…

„…amada criança, mantenha esta carta escondida para que não se torne pública; senão eu serei tão martirizado que serei digno de pena, e os guardas do calabouço seriam decapitados… Eu escrevi esta carta em alguns dias; minhas mãos estão lerdas, minha condição está mesmo péssima…

„… amada criança, seis pessoas me delataram simultaneamente, tudo mentira, conseguidas à força… E antes de serem executados eles me pediram perdão graças a Deus. Eles na verdade só sabiam coisas boas e amáveis a meu respeito. Eles foram obrigados a dizê-lo, como eu próprio ainda haveria de ver…

„… quando então o carrasco me levou de volta à prisão ele me disse: “Senhor, eu lhe peço pelo amor de Deus, confesse alguma coisa, seja ela verdade ou não. Invente algo pois não poderás suportar o martírio que lhe é infligido e mesmo que venhas a superá-los não serás liberto… mesmo se fosses um conde; mas depois de todo martírio um novo se inicia, até que digas que és um bruxo; diga isso antes que nunca mais o deixem em paz…

„…criança do meu coração, se tiver que lhe dar um conselho então tu deves pegar o que possúas de cartas e dinheiro e lançar-se em peregrinação por meio ano ou para onde puderes ir por um tempo… até ver como tudo terminará…

„…esta é a situação de muitos, e será de muitos mais se Deus não enviar algum remédio… reze por mim, teu pai, depois de minha morte, que Anna Maria também reze por mim, tu deves jurar veementemente que eu não sou bruxo mas sim um mártir, e eu morro assim contido. Boa noite, pois teu pai Johanes Junius nunca mais irá te ver

24 de julho do ano 1628

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