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Pensamentos de Nietzsche

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Pensamentos de Nietzsche Empty Pensamentos de Nietzsche

Mensagem por Fundador 4th agosto 2011, 16:08

É atuando que devemos abandonar

Eu odeio, no fundo, toda a moral que diz: «Não faças isto, não faças aquilo. Renuncia. Domina-te...» Gosto, pelo contrário, da moral que me leva a fazer uma coisa, a refazê-la, a pensar nela de manhã à noite, a sonhar com ela durante a noite e a não ter jamais outra preocupação que não seja fazê-la bem, tão bem quanto for capaz entre todos os homens. A viver assim despojamo-nos, uma a uma, de todas as preocupações que não têm nada a ver com esta vida: vê-se sem ódio nem repugnância desaparecer hoje isto, amanhã aquilo, folhas amarelas que o menor sopro um pouco vivo solta da árvore; ou mesmo nem sequer se dá por isso, de tal modo o objetivo absorve o olhar, de tal modo o olhar se obstina em ver para diante, não se desviando nunca, nem para a direita, nem para a esquerda, nem para cima, nem para baixo. «É a nossa atividade que deve determinar o que temos de abandonar; é atuando que deixaremos», eis o que amo, eis o meu próprio placitum! Mas eu não quero trabalhar para me empobrecer mantendo os olhos abertos, não quero essas virtudes negativas que têm por essência a negação e a renúncia.

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Mensagem por Fundador 4th agosto 2011, 16:21

O homem age sempre bem

Não acusamos a natureza de imoral, se ela nos manda uma trovoada e nos molha: porque chamamos imoral à pessoa que nos prejudica? Porque, aqui, admitimos uma vontade livre exercendo-se arbitrariamente; ali, uma necessidade. Mas essa distinção é um erro. E mais: nem em todas as circunstâncias chamamos «imoral» mesmo ao ato de lesar com intenção; por exemplo, mata-se deliberadamente um mosquito, sem hesitação, apenas porque o seu zumbido nos desagrada, castiga-se com intenção o criminoso e inflige-se-lhe sofrimento para nos protegermos a nós e à sociedade. No primeiro caso, é o indivíduo que, para se manter ou até para não se expor a um desagrado, faz sofrer intencionalmente; no segundo, é o Estado. Toda a moral aceita que se faça mal de propósito, em legítima defesa: ou seja, quando se trata da conservação de si próprio! Mas estes dois pontos de vista bastam para explicar todas as más ações cometidas por seres humanos contra seres humanos: ou se quer prazer para si ou se quer evitar desprazer; em qualquer dos sentidos, trata-se sempre da conservação de si próprio. Sócrates e Platão também têm razão: seja o que for que o homem faça, ele faz sempre o bem, isto é, aquilo que lhe parece bom (útil), consoante o grau da sua inteligência, consoante a respetiva medida da sua racionalidade.

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Mensagem por Fundador 4th agosto 2011, 16:32

A ação edifica-nos

Os nossos atos transformam-nos; em cada um dos nossos atos se exercem certas forças - enquanto noutros, não -, forças essas que assim são transitoriamente ignoradas; e sempre uma paixão se afirma em detrimento doutras paixões, às quais retira forças. Os nossos atos marcadamente habituais acabam por formar em redor de nós como que um edifício sólido; açambarcam as nossas forças de tal modo que tornam difícil um desvio de intenções.

Acontece também que uma abstenção habitual acaba por transformar o homem. Até pela cara se consegue adivinhar quem é um homem que se tem vencido a si próprio diariamente ou quem é um homem que se entrega com passividade ao dia-a-dia.

A primeira consequência da ação é ser ela a edificar-nos, até fisicamente.

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Mensagem por Fundador 6th agosto 2011, 00:12

Toda a ação é egoísta

Não pode haver ações que não sejam egoístas. Palavras como «instinto altruísta» soam aos meus ouvidos como machadadas. Bem gostaria eu que alguém tentasse demonstrar a possibilidade de atos desses! O povo, e quem se lhe assemelha, é que acredita que eles existem. Também há quem creia que o amor maternal e o amor carnal são sentimentos altruístas!

É um erro histórico supor que os povos sempre equipararam o sentido de egoísmo e de altruísmo ao de bem e de mal. Bem mais antiga é a concepção de lícito e ilícito, respetivamente como bem e mal, em conformidade com o cumprimento ou falta de cumprimento dos costumes.

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Mensagem por Fundador 6th agosto 2011, 00:20

O defeito dos homens ativos

Aos ativos falta, habitualmente, a atividade superior: refiro-me à individual. Eles são ativos enquanto funcionários, comerciantes, eruditos, isto é, como seres genéricos, mas não enquanto pessoas perfeitamente individualizadas e únicas; neste aspeto, são indolentes. A infelicidade das pessoas ativas é a sua atividade ser quase sempre um tanto absurda. Não se pode, por exemplo, perguntar ao banqueiro, que junta dinheiro, qual o objetivo da sua incansável atividade: ela é irracional. Os homens ativos rebolam como rebola a pedra, em conformidade com a estupidez da mecânica. Todos os homens se dividem, como em todos os tempos também ainda atualmente, em escravos e livres; pois quem não tiver para si dois terços do seu dia é um escravo, seja ele, de resto, o que quiser: político, comerciante, funcionário, erudito.

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Mensagem por Fundador 6th agosto 2011, 00:38

A saúde da alma

A célebre forma de medicina moral (a de Aríston de Chios), «a virtude é a saúde da alma», deveria ser pelo menos assim transformada para se tornar utilizável: «A tua virtude é a saúde da tua alma» Porque em nós não existe qualquer saúde e todas as experiências que se fizeram para dar este nome a qualquer coisa malograram-se miseravelmente. Importa que se conheça o seu objetivo, o seu horizonte, as suas forças, os seus impulsos, os seus erros e, sobretudo, o ideal e os fantasmas da sua alma para determinar o que significa a saúde, mesmo para o seu corpo. Existem, portanto, inúmeras saúdes do corpo; e quanto mais se permitir ao indivíduo, a quem não podemos comparar-nos, que levante a cabeça, mais se desaprenderá o dogma da «igualdade dos homens», mais necessário será que os nossos médicos percam a noção de uma saúde normal, de uma dieta normal, de um curso normal da doença. Será só então que se poderá talvez refletir na saúde e na doença da alma e colocar a virtude particular de cada um nesta saúde, que corre muito o risco de ser num o contrário do que sucede com outro. Restará a grande questão de saber se podemos dispensar a doença, mesmo para desenvolver a nossa virtude, se, nomeadamente, a nossa sede de conhecer, e de nos conhecermos a nós próprios, não tem necessidade da nossa alma doente tanto como da nossa alma saudável, em resumo, se querer exclusivamente a nossa saúde não será um preconceito, uma cobardia e talvez um resto de barbárie mais subtil e do espírito mais retrógrado.

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Mensagem por Fundador 6th agosto 2011, 23:17

A comédia do ambicioso

Um homem que aspira a coisas grandes considera todo aquele que encontra no seu caminho, ou como meio, ou como retardamento e impedimento, ou como um leito de repouso passageiro. A sua bondade para com os outros, que o caracteriza e que é superior, só é possível quando ele atinge o seu máximo e domina. A impaciência e a sua consciência de, até aqui, estar sempre condenado à comédia - pois mesmo a guerra é uma comédia e encobre, como qualquer meio encobre, o fim -, estraga-lhe todo o convívio: esta espécie de homem conhece a solidão e o que ela tem de mais venenoso.

Para Além do Bem e do Mal

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Mensagem por Fundador 6th agosto 2011, 23:31

Amor ou posse?

O nosso «amor pelo próximo» não será o desejo imperioso de uma nova propriedade? E não sucede o mesmo com o nosso amor pela ciência, pela verdade? E, mais geralmente, com todos os desejos de novidade? Cansamo-nos pouco a pouco do antigo, do que possuímos com certeza, temos ainda necessidade de estender as mãos; mesmo a mais bela paisagem, quando vivemos diante dela mais de três meses, deixa de nos poder agradar, qualquer margem distante nos atrai mais: geralmente uma posse reduz-se com o uso. O prazer que tiramos a nós próprios procura manter-se, transformando sempre qualquer nova coisa em nós próprios; é precisamente a isso que se chama possuir.

Cansar-se de uma posse é cansar-se de si próprio (pode-se também sofrer com o excesso; à necessidade de deitar fora pode assim atribuir-se o nome lisonjeiro de «amor»). Quando vemos sofrer uma pessoa, aproveitamos de bom grado essa ocasião que se oferece de nos apoderarmos dela; é o que faz o homem caridoso, o indivíduo complacente; chama também «amor» a este desejo de uma nova posse que despertou na sua alma e tem prazer nisso como diante do apelo de uma nova conquista. Mas é o amor de sexo para sexo que se revela mais nitidamente como um desejo de posse: aquele que ama quer ser possuidor exclusivo da pessoa que deseja, quer ter um poder absoluto tanto sobre a sua alma como sobre o seu corpo, quer ser amado unicamente, instalar-se e reinar na outra alma como o mais alto e o mais desejável.

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Mensagem por Fundador 8th agosto 2011, 22:26

É preciso aprender a amar

Que se passa para nós no domínio musical? Devemos em primeiro lugar aprender a ouvir um motivo, uma ária, de uma maneira geral, a percebê-lo, a distingui-lo, a limitá-lo e isolá-lo na sua vida própria; devemos em seguida fazer um esforço de boa vontade - para o suportar, mau grado a sua novidade - para admitir o seu aspeto, a sua expressão fisionómica - e de caridade - para tolerar a sua estranheza; chega enfim o momento em que já estamos afeitos, em que o esperamos, em que pressentimos que nos faltaria se não viesse; a partir de então continua sem cessar a exercer sobre nós a sua pressão e o seu encanto e, entretanto, tornamo-nos os seus humildes adoradores, os seus fiéis encantados que não pedem mais nada ao mundo, senão ele, ainda ele, sempre ele.

Não sucede assim só com a música: foi da mesma maneira que aprendemos a amar tudo o que amamos. A nossa boa vontade, a nossa paciência, a nossa equanimidade, a nossa suavidade com as coisas que nos são novas acabam sempre por ser pagas, porque as coisas, pouco a pouco, se despojam para nós do seu véu e apresentam-se a nossos olhos como indizíveis belezas: é o agradecimento da nossa hospitalidade. Quem se ama a si próprio aprende a fazê-lo seguindo um caminho idêntico: existe apenas esse. O amor também deve ser aprendido.

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Mensagem por Fundador 8th agosto 2011, 22:41

Como a aparência se torna ser

O ator acaba por não deixar de pensar na impressão causada pela sua pessoa e no efeito cénico total, até por ocasião da mais profunda mágoa, por exemplo, mesmo no enterro do seu filho; chorará ante o seu próprio desgosto e respetivas exteriorizações como sendo o seu próprio espetador. O hipócrita, que desempenha sempre um mesmo papel, acaba por deixar de ser hipócrita; por exemplo, sacerdotes, que, enquanto homens novos, são habitualmente, de modo consciente ou inconsciente, hipócritas, por fim tornam-se naturais e são, então, realmente, sem qualquer simulação, mesmo sacerdotes; ou se o pai não consegue lá chegar, então, talvez, o filho, que se serve do avanço do pai e herda a sua habituação. Se uma pessoa quiser, durante muito tempo e persistentemente, parecer alguma coisa, consegue-o pois acaba por se lhe tornar difícil ser qualquer outra coisa. A profissão de quase toda a gente, até do artista, começa com hipocrisia, com uma imitação a partir do exterior, com um copiar de aquilo que é eficaz. Aquele, que traz sempre a máscara das expressões fisionómicas amistosas, tem de acabar por adquirir poder sobre as disposições anímicas benévolas, sem as quais não é possível forçar a expressão da afabilidade e, finalmente, por seu turno, adquirem estas poder sobre ele: ele é amistoso.

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Mensagem por Fundador 9th agosto 2011, 23:45

Para a psicologia do artista

Para que haja arte, para que haja alguma ação e contemplação estéticas, torna-se indispensável uma condição fisiológica prévia: a embriaguez. A embriaguez tem de intensificar primeiro a excitabilidade da máquina inteira: antes disto não acontece arte alguma. Todos os tipos de embriaguez, por muito diferentes que sejam os seus condicionamentos, têm a força de conseguir isto: sobretudo a embriaguez da excitação sexual, que é a forma mais antiga e originária de embriaguez. Também a embriaguez que se segue a todos os grande apetites, a todos os afetos fortes; a embriaguez da festa, da rivalidade, do feito temerário, da vitória, de todo o movimento extremo; a embriaguez da crueldade; a embriaguez da destruição; a embriaguez resultante de certos influxos meteorológicos, por exemplo a embriaguez primaveril; ou a devida ao influxo dos narcóticos; por fim, a embriaguez da vontade, a embriaguez de uma vontade sobrecarregada e dilatada. O essencial na embriaguez é o sentimento de plenitude e de intensificação da forças. Deste sentimento fazemos partícipes as coisas, constrangemo-las a que participem de nós, violentamo-las -, idealizar é o nome que se dá a esse processo. Libertemo-nos aqui de um preconceito: o idealizar não consiste, como se crê comumente, num subtrair ou diminuir o pequeno, o acessório. Um enorme extrair os traços principais é, isso sim, o decisivo, de tal modo que os outros desapareçam ante eles.

Crepúsculo dos Ídolos

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Mensagem por Fundador 13th agosto 2011, 16:21

Prejudicar com o que se tem de melhor

As nossas forças levam-nos por vezes tão longe que não podemos continuar a suportar as nossas fraquezas e disso perecemos: bem nos sucede prever esse resultado, mas não lhe podemos introduzir nenhuma modificação. Usamos então a dureza contra o que seria necessário poupar em nós mesmos e a nossa grandeza faz a nossa barbárie.

Esta experiência, que acabamos por pagar com a vida, simboliza a ação dos grandes homens nos outros e no seu tempo: é com aquilo que têm de melhor, com aquilo que são os únicos a poder fazer, que arruínam grande número de seres fracos, incertos, sem vontade própria, ainda em mudança, é com aquilo que têm de melhor em si próprios que se tornam nocivos. Pode até acontecer que só prejudiquem porque aquilo que há de melhor nele só pode ser absorvido, esvaziado de um trago, de qualquer maneira, por seres que ali afogam a sua razão e a sua individualidade, como se fosse num licor excessivamente forte: estão de tal modo embriagados que não poderão deixar de partir os membros em todos os caminhos em que a sua embriaguez os fulminará.

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Mensagem por Fundador 13th agosto 2011, 16:29

Onde começa o bem

Há um limite a partir do qual a força visual do olho humano deixa de ser capaz de identificar o mau instinto tornado demasiado subtil para os seus fracos recursos; é aí que o homem faz começar o reino do bem; e a sensação de ter penetrado nesse reino desperta sincronicamente nele todos os instintos, os sentimentos de segurança, de bem-estar e de benevolência, que o mal limitava e ameaçava. Por consequência: quanto mais o olhar é fraco, maior é o domínio do bem! Daí a eterna alegria do povo e das crianças! Daí o abatimento dos grandes pensadores e o humor negro que é o seu, humor parente da má consciência.

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Mensagem por Fundador 18th agosto 2011, 22:19

O bom senso como suporte da humanidade

Se não tivesse havido em todos os tempos uma maioria de homens para fazer depender o seu orgulho, o seu dever, a sua virtude da disciplina do seu espírito, da sua «razão», dos amigos do «bom senso», para se sentirem feridos e humilhados pela menor fantasia, o menor excesso da imaginação, a humanidade já teria naufragado há muito tempo.

A loucura, o seu pior perigo, não deixou nunca, com efeito, de planar por cima dela, a loucura prestes a estalar... quer dizer, a irrupção da lei do bom prazer em matéria de sentimento, de sensações visuais ou auditivas, o direito de gozar com o jorro do espírito e de considerar como um prazer a irrisão humana. Não são a verdade, a certeza que estão nos antípodas do mundo dos insensatos; é a crença obrigatória e geral, é a exclusão do bom prazer no ajuizar. O maior trabalho dos homens foi até agora concordar sobre uma quantidade de coisas e fazer uma lei desse acordo..., quer essas coisas fossem verdadeiras ou falsas. Foi a disciplina do espírito que preservou a humanidade..., mas os instintos que a combatem são ainda tão poderosos que, em suma, só se pode falar com pouca confiança no futuro da humanidade.

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Mensagem por Fundador 18th agosto 2011, 22:52

A psicologia do homem bom

Para apreciar o valor de um tipo humano, requere-se calcular o preço da sua conservação - requere-se conhecer as suas condições de existência. A condição de existência do bom é a mentira: exprimindo de outra maneira, é a recusa obstinada, e a todo o preço, de ver como é constituída a realidade. Ora, ela não é constituída de modo a solicitar constantemente os instintos benévolos, e menos ainda a permitir a intervenção de mãos néscias e bondosas. Considerar em geral as desgraças de toda a espécie como simples embaraço, como coisa a suprimir, é a necessidade por excelência, necessidade que pode provocar verdadeiras catástrofes. Se se olham as coisas de alto, essa atitude aparece como fatalidade da estupidez - e estupidez quase tamanha como seria pretender, por exemplo, suprimir as intempéries por amor dos pobres...

Na grande economia do Todo, os terríveis golpes da realidade (na ambição, nas paixões, na vontade de poder) são necessários em grau inapreciável, muito mais que a forma medíocre de ser feliz que se chama «bondade» - preciso até de ser indulgente para conceder lugar a esta última, visto que ela tem por condição a mentira dos instintos. Terei já ocasião de mostrar as consequências perturbantes e incomensuráveis que pôde ter, para toda a história, o otimismo, essa criação dos homines optimi. Zaratustra compreendeu antes de ninguêm que o otimista é tão decadente como o pessimista, e talvez mais nocivo. Eis as suas palavras: "Os homens bons nunca dizem a verdade. Os homens bons ensinam a falsidade na maneira de agir e de pensar. Vós nascestes e fostes educado nas mentiras dos bons. Tudo foi desde o fundo deformado e pervertido pelos bons".

O mundo não está felizmente para corresponder aos instintos em que o animal de rebanho encontra a felicidade. Exigir que todos os «homens bons» tenham olhos azuis, sejam bondosos, tenham uma «bela alma» - ou, como quer o senhor Herbert Spencer, se tornem «altruístas» - seria retirar à existência a sua característica primacial, seria castrar a humanidade e fazê-la descer à mais mesquinha chinezice. Neste sentido chama Zaratustra aos bons, ora «os últimos homens», ora o «começo do fim»; antes de tudo os considera ele como a mais perigosa espécie de homens, visto que levam adiante a sua forma de experiência tanto à custa da verdade como do porvir.

Ecce Homo

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Mensagem por Fundador 19th agosto 2011, 23:04

Dar estilo ao seu caráter

«Dar estilo» ao seu caráter... é uma arte deveras considerável que raramente se encontra! Para a exercer é necessário que o nosso olhar possa abranger tudo o que há de forças e de fraquezas na nossa natureza, e que as adaptemos em seguida a um plano concebido com gosto, até que cada uma apareça na sua razão e na sua beleza e que as próprias fraquezas seduzam os olhos. Aqui ter-se-á acrescentado uma grande massa de segunda natureza, nos pontos onde se terá tirado um pedaço da primeira, à custa, nos dois casos, de um paciente exercício e de um trabalho de todos os dias. Neste lugar disfarçou-se uma fealdade que se não podia fazer desaparecer, noutro ela foi transmudada, fez-se dela uma beleza sublime. Grande número de elementos, que se recusavam a tomar forma, foram reservados para ser utilizados nos efeitos de perspetiva: darão os longes, o apelo do infinito. Foi a unidade, a pressão de um mesmo gosto que dominou e afeiçoou no grande e no pequeno: a que ponto, vemo-lo por fim, uma vez terminada a obra; que esse gosto seja bom ou mau, importa menos do que se pensa, basta que tenha havido um.

Serão as naturezas fortes e dominadoras que apreciarão as alegrias mais subtis nesta opressão, nesta escravatura, nesta perfeição, ditadas pela lei pessoal; o aspeto de qualquer natureza estilizada, de qualquer natureza, enfim, vencida e submetida, alivia a paixão da sua forte vontade; se têm de construir palácios, se têm de plantar jardins, repugna-lhes também deixar a natureza livre. Pelo contrário, aqueles que têm um caráter fraco, aqueles que não se dominam, odeiam a servidão do estilo: sentem que se tornariam inevitavelmente vulgares se esta amarga opressão lhes fosse imposta: não saberiam servir sem se tornar escravos, por isso detestam fazê-lo. Semelhantes espíritos - e podem ser de primeira ordem - empenham-se sempre em se dar a si próprios e em dar ao seu meio o ritmo de naturezas livres - selvagens, arbitrárias, fantasistas, desordenadas e surpreendentes - ou em interpretar-se como tais: e fazem bem, porque é só assim que se satisfazem! Uma única coisa é, com efeito, necessária: que o homem chegue a estar contente consigo, qualquer que seja a arte ou a ficção de que se serve para esse fim: é somente então que ganha uma fisionomia suportável! Os que estão descontentes consigo próprios estão sempre prontos a vingar-se: como nós que seremos as suas vítimas, quanto mais não seja tendo de suportar sempre o seu desagradável espetáculo. Porque o espetáculo da fealdade torna as pessoas más e sombrias.

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Mensagem por Fundador 21st agosto 2011, 22:19

Ciência redutora da vida

Proclama-se com um ar de triunfo que «a ciência começa a dominar a vida». Pode ser que chegue a isso, mas é certo que a vida assim dominada não tem mais grande valor, porque é muito menos uma vida, e garante para o futuro muito menos vida que essa mesma vida fazia em outros tempos, dominada não pela ciência, mas pelos instintos e por algumas grandes ilusões.

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Mensagem por Fundador 21st agosto 2011, 22:28

A grandeza de caráter

Obedecer aos próprios sentimentos? Arriscar a vida ao ceder a um sentimento generoso ou a um impulso de momento... Isso não caracteriza um homem: todos são capazes de fazê-lo; neste ponto, um criminoso, um bandido, um corso, certamente superam um homem honesto. O grau de superioridade é vencer em si esse elã e realizar o ato heróico, não por um impulso, mas friamente, razoavelmente, sem a expansão de prazer que o acompanha. Outro tanto acontece com a piedade: ela há-de ser habitualmente filtrada pela razão; caso contrário, é tão perigosa como qualquer outra emoção. A docilidade cega perante uma emoção - tanto importa que seja generosa ou piedosa como odienta - é causa dos piores males. A grandeza de caráter não consiste em não experimentar emoções; pelo contrário, estas são de ter no mais alto grau; a questão é controlá-las e, ainda assim, havendo prazer em modelá-las, em função de algo mais.

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Mensagem por Fundador 21st agosto 2011, 22:37

Espíritos dirigentes e seus instrumentos

Vemos grandes estadistas e, em geral, todos aqueles que devem servir-se de muitas pessoas para a execução dos seus planos, comportarem-se ora de uma maneira, ora de outra: ou selecionam muito apurada e cuidadosamente as pessoas que convêm aos seus projetos e lhes deixam, depois, uma liberdade relativamente grande, porque sabem que a natureza desses indivíduos escolhidos os impele precisamente para onde eles próprios querem que eles vão; ou, então, escolhem mal, pegam mesmo no que têm à mão, mas formam a partir desse barro algo que serve para os seus fins. Este último género é o mais violento, também o que procura instrumentos mais submissos; o seu conhecimento dos homens é, habitualmente, muito mais escasso, o seu desprezo pelos homens é maior do que no caso dos espíritos mencionados em primeiro lugar, mas a máquina, que eles constroem, trabalha melhor, de maneira geral, que a máquina saída da oficina daqueles.

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Mensagem por Fundador 1st setembro 2011, 16:23

Retrocesso civilizacional

São talvez as prioridades dos nossos tempos que acarretam um retrocesso e uma eventual depreciação da vida contemplativa. Mas há que confessar que a nossa época é pobre em grandes moralistas, que Pascal, Epicteto, Séneca, Plutarco, pouco são lidos ainda, que o trabalho e o esforço - outrora, no séquito da grande deusa Saúde - parecem, por vezes, grassar como uma doença. Porque falta tempo para pensar e sossego no pensar, já não se examina as opiniões diferentes: a gente contenta-se em odiá-las. Dada a enorme aceleração da vida, o espírito e o olhar são acostumados a ver e a julgar, parcial ou erradamente, e toda a gente se assemelha aos viajantes que ficam a conhecer um país e um povo, vendo-os do caminho-de-ferro.

Uma atitude independente e cautelosa em matéria de conhecimento é menosprezada quase como uma espécie de tolice, o espírito livre é difamado, nomeadamente, por eruditos que, na sua arte de observar as coisas, sentem a falta da minúcia e do zelo de formigas que lhes são próprios e bem gostariam de bani-lo para um canto isolado da ciência: quando ele tem a missão, completamente diferente e superior, de comandar, a partir de uma posição solitária, toda a hoste dos homens da ciência e da erudição e de lhes mostrar os caminhos e os objetivos da cultura. Uma lamentação, como a que acaba de ser cantada, terá provavelmente a sua época e calar-se-á por si própria, um dia, quando se der o regresso em força do génio da meditação.

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Mensagem por Fundador 5th setembro 2011, 18:21

A corrupção da humanidade

Diante dos meus olhos apresentou-se um espetáculo doloroso e aterrador; ergui o pano da corrupção da humanidade. Pelo menos na minha boca, a palavra escapa à suspeita de conter qualquer acusação moral contra o homem. Entendo-a - importa sublinhá-lo uma vez mais - desprovida de moralismos: a tal ponto que deteto essa corrupção precisamente onde até hoje mais conscientemente se aspirou à «virtude», à «divindade». Eu entendo essa corrupção, como se pode adivinhar, no sentido de décadence; afirmo que todos os valores em que se resume para a humanidade atual o expoente máximo do desejável são valeurs de décadence.

Considero corrupto um animal, uma espécie ou um indivíduo quando ele perde os seus instintos e escolhe e prefere aquilo que lhe é prejudicial. Uma história dos «sentimentos sublimes», dos «ideais da humanidade» - e é possível que me veja obrigado a contá-la - equivaleria quase a explicar por que causa está o homem tão corrompido.

Ora a própria vida é para mim o instinto de crescimento, de sobrevivência, de fortalecimento, de poder; onde falta a vontade de poder há degenerescência. E eu afirmo que esta vontade falta em todos os valores supremos da humanidade - e que, sob os mais sagrados nomes, reinam os valores da decadência, os valores niilistas.

O Anticristo

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Mensagem por Fundador 6th setembro 2011, 18:40

O apogeu do cobarde

Havia num partido um homem, que era demasiado medroso e cobarde para, alguma vez, contradizer os seus camaradas: empregavam-no para todos os serviços, exigiam tudo dele, porque ele tinha mais medo da má opinião dos seus camaradas que da morte; era um lamentável espírito fraco. Eles reconheceram isso e fizeram dele, em virtude das circunstâncias mencionadas, em herói e, por fim, até um mártir. Embora o cobarde, interiormente, dissesse sempre não, com os lábios pronunciava sempre sim, mesmo já no cadafalso, ao morrer pelas ideias do seu partido: é que, ao lado dele, estava um dos seus velhos camaradas, que o tiranizava tanto pela palavra e o olhar, que ele sofreu a morte realmente da maneira mais decente e, desde então, é homenageado como mártir e grande personalidade.

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Mensagem por Fundador 6th setembro 2011, 18:49

Compaixão perversa

O prazer de maltratar outrem é distinto da crueldade. Esta consiste em encontrar satisfação na compaixão e atinge o ponto culminante quando a compaixão chega a extremos, como quando maltratamos os que amamos; todavia, se fosse alguém, que não nós, a magoar os que amamos, então ficávamos furiosos e a compaixão tornar-se-nos-ia dolorosa; mas somos nós a amá-los e somos nós a magoá-los.

A compaixão exerce uma infinita atração: a contradição de dois instintos fortes e opostos atua em nós como atrativo supremo.

A crueldade e o prazer da compaixão: a compaixão aumenta quanto mais conhecemos e mais amamos intensamente quem é objeto dela. Portanto, aquele que trata com crueldade o objeto do seu amor retira da crueldade - que amplia a compaixão - a máxima satisfação.

Quando, acima de tudo, nos amamos a nós próprios, o maior prazer que encontramos - por meio da compaixão - pode levar-nos a mostrarmo-nos cruéis para connosco. Heróico da nossa parte é o esforço de completa identificação com aquilo que nos é contrário. A metamorfose do Diabo em Deus representa esse grau de crueldade.

A Vontade de Poder

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Pensamentos de Nietzsche Empty Re: Pensamentos de Nietzsche

Mensagem por Fundador 6th setembro 2011, 18:55

Quantos séculos precisa um espírito para ser compreendido?

Os maiores acontecimentos e os maiores pensamentos - mas os maiores pensamentos são os maiores acontecimentos - são os que mais tarde se compreendem: as gerações que lhes são contemporâneas não vivem esses acontecimentos, passam por eles. Acontece aqui algo de análogo ao que se observa no domínio dos astros. A luz das estrelas mais distantes chega mais tarde aos homens; e, antes da sua chegada, os homens negam que ali existam estrelas. «Quantos séculos precisa um espírito para ser compreendido?», aí está também uma medida, um meio de criar uma hierarquia e uma etiqueta necessárias: para o espírito e para a estrela.

Para Além do Bem e do Mal

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Pensamentos de Nietzsche Empty Re: Pensamentos de Nietzsche

Mensagem por Fundador 16th setembro 2011, 18:42

Conhecimento sem paixão seria castrar a inteligência

Como investigadores do conhecimento, não sejamos ingratos com os que mudaram por completo os pontos de vista do espírito humano; na aparência foi uma revolução inútil, sacrílega; mas já de si o querer ver de modo diverso dos outros não é pouca disciplina e preparação do entendimento para a sua futura «objetividade», entendo por esta palavra não a «contemplação desinteressada», que é um absurdo, senão a faculdade de dominar o pró e o contra, servindo-se de um e de outro para a interpretação dos fenómenos e das paixões. Acautelemo-nos, pois, oh, senhores filósofos!

Desta confabulação das ideias antigas acerca de um «assunto do conhecimento puro, sem vontade, sem dor, sem tempo», defendamo-nos das moções contraditórias «razão pura», «espiritualidade absoluta», «conhecimento subsistente», que seria um ver subsistente em si próprio e sem órgão visual, ou um olho sem direção, sem faculdades ativas e interpretativas? Pois o mesmo sucede com o conhecimento: uma vista, e se é dirigida pela vontade, veremos melhor, teremos mais olhos, será mais completa a nossa «objetividade». Mas eliminar a vontade, suprimir inteiramente as paixões - supondo que isso fosse possível - seria castrar a inteligência.

Genealogia da Moral

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