Filosofia de Kierkegaard
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Filosofia de Kierkegaard

A sua obra é de difícil interpretação, pois ele muitas vezes criava pseudónimos para atacar o que tinha dito, acabando por surgir outro pseudónimo para argumentar contra o que o último disse… e por aí fora. Talvez a descrição da aparência de Kierkegaard, por Hans Brøchner, seja uma aproximação à sua forma de pensar:
"A sua aparência pareceu-me quase cómica. Ele tinha então 23 anos de idade; tinha algo de muito irregular na sua forma e uma estranho penteado. O seu cabelo elevava-se quase seis polegadas acima da testa numa crista desgrenhada, dando-lhe uma aparência estranha e desnorteada."
Kierkegaard (1813-1855) nasceu e morreu em Copenhaga. A sua obra volta-se unicamente para como se deve viver. O dia-a-dia e as emoções dos homens são para ele mais importantes do que as máximas filosóficas que se desviam do Ser.
A sua filosofia é marcada pela angústia e pelo sofrimento. Para Kierkegaard a maior angústia do Homem é o livre-arbítrio, isto é, o poder de escolha. Quando o poder de escolha se apresenta ao Homem surge sempre o sofrimento, pois este terá de sofrer as consequências das suas escolhas. Se não houvesse poder de escolha, tal como a situação dos soldados nas guerras, tudo seria mais fácil. Na sua visão, o Homem está condenado à angústia simplesmente por existir, por se encontrar no meio de forças opostas que lutam entre si.
Por estranho que pareça, após pedir a mão da jovem Regine Olsen em casamento, e ela ter aceitado, Kierkegaard rompeu com o noivado. Apesar do amor que sentia por essa jovem, o jovem filósofo preferiu ficar mergulhado nas suas angústias. Esta sua acção talvez defina na perfeição a sua filosofia, embora existam nela influências do romantismo. No seu diário escreveu sobre o seu amor por Regine:
"Vós, soberana do meu coração, guardada na profundeza secreta do meu peito, na plenitude do meu pensamento, ali [...] divindade desconhecida! Ó, posso eu realmente acreditar nas palavras dos poetas, que quando se vê pela primeira vez o objecto do seu amor, imagina já tê-la visto há muito tempo, que todo o amor assim como todo o conhecimento é lembrança, que o amor tem também as suas profecias dentro do indivíduo."
A ética cristã está presente em força no trabalho de Kierkegaard, e este afirma que só o amor a Deus pode ser considerado como a maior virtude e a realidade última. No entanto, os dogmas da Igreja da Dinamarca foram rejeitados por Kierkegaard, que prefere desconhecer a forma dessa realidade última do que afirmá-la por palavras e rituais.
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Re: Filosofia de Kierkegaard
Um Herói não se Declara
Aquele que se expõe à morte deve estar à altura de incutir à sua época a força da exasperação. Se, pois, vejo um homem até então completamente desconhecido dos seus contemporâneos aparecer afirmando que está pronto a sacrificar a sua vida e a enfrentar a morte, muito tranquilamente então (...) eu demitiria este profeta. Nunca um tal homem chegaria ao ponto de ser condenado à morte pela sua época, ainda que, por outro lado, tivesse realmente a coragem de morrer e a isso estivesse disposto. Ele não conhece o segredo; pensa evidentemente que os seus contemporâneos, os mais fortes, se encarregarão da execução, quando ele deveria ser de tal modo superior ao seu tempo que não o deixasse, permanecendo ele próprio passivo, cumprir sozinho o seu trabalho de tal modo superior que não lho indicasse mas livremente o constrangesse a sair-se bem dele. Os juízes costumam deixar dormir a pena capital quando um infeliz desgostado com a vida deseja a morte, e tal é também a sabedoria desta geração: que prazer teria ele em ter feito perecer este herói!
Um Homem Tem o Direito de se Deixar Condenar à Morte pela Verdade?
Aquele que se expõe à morte deve estar à altura de incutir à sua época a força da exasperação. Se, pois, vejo um homem até então completamente desconhecido dos seus contemporâneos aparecer afirmando que está pronto a sacrificar a sua vida e a enfrentar a morte, muito tranquilamente então (...) eu demitiria este profeta. Nunca um tal homem chegaria ao ponto de ser condenado à morte pela sua época, ainda que, por outro lado, tivesse realmente a coragem de morrer e a isso estivesse disposto. Ele não conhece o segredo; pensa evidentemente que os seus contemporâneos, os mais fortes, se encarregarão da execução, quando ele deveria ser de tal modo superior ao seu tempo que não o deixasse, permanecendo ele próprio passivo, cumprir sozinho o seu trabalho de tal modo superior que não lho indicasse mas livremente o constrangesse a sair-se bem dele. Os juízes costumam deixar dormir a pena capital quando um infeliz desgostado com a vida deseja a morte, e tal é também a sabedoria desta geração: que prazer teria ele em ter feito perecer este herói!
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