História Universal
SIGA-NOS NO FACEBOOK

CURTA NOSSA PAGINA
História Universal
SIGA-NOS NO FACEBOOK

CURTA NOSSA PAGINA
loading...

François Villon

Ver o tópico anterior Ver o tópico seguinte Ir para baixo

François Villon Empty François Villon

Mensagem por Fundador 17th março 2011, 17:32

François Villon François-Villon-225x300

François Villon é a minha personalidade histórica favorita. Apesar de também gostar de Lord Byron e Napoleão Bonaparte, prefiro um Villon a dois Byron ou dois Bonaparte. Sim, eu sei, François Villon foi um assassino, ladrão, boémio, canalha, miserável e maldito. No entanto, foi o maior poeta francês da Idade Média (considerado o primeiro poeta maldito) e um dos maiores de sempre! É preciso conhecer Villon tomando em conta o tempo em que viveu, pois ele foi um produto do seu tempo.

François Villon foi autor de uma poesia única. Para ele não existem heróis, homens grandiosos, emoções sublimes e actos de fazer corar os deuses; Villon escreveu sobre a vida tal como ela é: prostitutas, chulos, canalhas, maldade, hipocrisia e “salve-se quem puder”. A sua poesia é como uma “fotografia” da França daquele tempo.

A França tinha acabado de sair da Guerra dos Cem Anos e por as ruas encontravam-se centenas de jovens universitários a morrer de fome, sede e frio. Havia mendigos por todos os cantos e tudo estava mal e em sofrimento. O rei tinha fechado as universidades e os jovens foram obrigados a viver na miséria. Enquanto que Portugal e Espanha viviam os seus momentos de glória com os Descobrimentos, tanto a França como a Inglaterra estavam mergulhadas no lodo.

Não existem certezas quanto à data de nascimento de Villon, mas situa-se por volta de 1431/1432. Ele foi criado a “cebolas e maldições” somente pela sua mãe, pois era orfão de pai, e desde muito cedo aprendeu a roubar comida aos vizinhos. Talvez por a miséria da sua mãe, foi enviado para ser educado por Guillaume de Villon, um homem respeitado na sociedade francesa da altura; foi aí que François tomou o apelido Villon, pois o seu nome original era François de Montcorbier. O seu tutor e novo “pai” foi uma benção para ele, pois tentou dar-lhe uma educação digna e enviou-o para a Faculdade de Artes de Paris para se tornar clérigo. No entanto, Villon era ultra-sensível e os seus ossos eram moldados por o caos e a tragédia; rapidamente abandonou os estudos e mergulhou na vida maldita.

Aos vinte anos já havia seduzido muitas mulheres e aos 24/25 assassinou um padre por causa duma discussão sobre uma mulher. Villon fugiu de Paris, dado que o seu destino era a morte, mas teve sorte: como tinha o cadastro limpo, o seu “pai” era respeitado e o padre perdoou-o no momento da morte, recebeu autorização para regressar a Paris. Nessa discussão com o padre, Villon acabou golpeado nos lábios e ficou desfigurado; esse acidente baixou a sua auto-estima.

No entanto, a sua auto-estima rapidamente voltaria a subir. Villon tornou-se o líder de um bando de criminosos que nas décadas de 50/60 do século XV aterrorizou Paris: eram ladrões, violadores e arruaceiros. Quando alguns deles eram apanhados por a polícia e condenados à morte, Villon escrevia um poema e enviava-os para o Inferno com sarcasmo. Apesar disso, todos o viam como o seu “pai”, o líder, que não deixava que nada os faltasse.

Numa noite de Natal, enquanto todos os franceses se reuniam com a família, Villon, junto com alguns dos seus amigos malditos, rouba um cofre cheio de moedas de ouro do Colégio de Navarra. Antes de fugir de Paris, escreve o Pequeno Testamento onde abundam as sátiras a todos aqueles que o humilharam e às mulheres que o rejeitaram:

Adeus ladrões, miseráveis, canalhas e prostitutas. Adeus!

Alguns dos participantes nesse roubo são apanhados e, sob tortura, confessam a participação de Villon no roubo. Villon volta para Paris por livre vontade e é preso, mas graças à intervenção de Guillaume é libertado. No tempo que esteve fora de Paris, passou algum tempo na corte de Carlos, Duque de Orleães, como um dos poetas oficiais do príncipe. No entanto, devido às suas sátiras e ao facto de as mulheres da corte o adorarem, foi expulso da companhia desses poderosos.

Seguem-se tempos de mais confusão e tragédia: roubos, brigas e angústia. Villon é novamente preso devido a uma briga num bar e desta vez não tem sorte: é processado por todos os seus crimes, mesmo o do Colégio de Navarra. É condenado à morte por enforcamento e na prisão sofre a tortura da água (litros de água despejados à força pela garganta abaixo). Temos então o seguinte Villon: esquelético, miserável, sofrido, trágico, maldito, com fome, cheio de pisaduras… e com a corda como destino. Mas então, surge um milagre!

No meio dessa lama e lixo, surge o Grande Testamento, uma das obras poéticas mais sublimes de sempre! No Grande Testamento, temos o melhor Villon. Ele consegue definir o sentimento de saudade duma forma mais intensa: da nostalgia e angústia passiva… surge a nostalgia e angústia ativa:

Mas onde estão as neves de outrora?

Essa frase encontra-se na Balada das Damas dos Tempos Idos, a balada, na minha opinião, mais bela de sempre:

Dizei-me em que terra ou país
Está Flora, a bela romana;
Onde Arquipíada ou Taís,
que foi sua prima germana;
Eco, a imitar na água que mana
de rio ou lago, a voz que a aflora,
E de beleza sobre-humana?
Mas onde estais, neves de outrora?

E Heloísa, a mui sábia e infeliz
Pela qual foi enclausurado
Pedro Abelardo em São Denis,
por seu amor sacrificado?
Onde, igualmente, a soberana
Que a Buridan mandou pôr fora
Num saco ao Sena arremessado?
Mas onde estais, neves de outrora?

Branca, a rainha, mãe de Luís
Que com voz divina cantava;
Berta Pé-Grande, Alix, Beatriz
E a que no Maine dominava;
E a boa lorena Joana,
Queimada em Ruão? Nossa Senhora!
Onde estão, Virgem soberana?
Mas onde estais, neves de outrora?

Príncipe, vede, o caso é urgente:
Onde estão elas, vede-o agora;
Que este refrão guardeis em mente:
Onde estão as neves de outrora?


É realmente inacreditável que no meio de tanta tragédia tenha surgido algo tão belo. Mas, a beleza nasce precisamente da tragédia. Somente se provarmos os venenos da vida, podemos subir mais alto!

Villon tem mais uma vez sorte. Surge o seu benfeitor de sempre, Guillaume, e consegue comutar a sentença de morte para banimento por 10 anos. Assim, na manhã de 5 de janeiro de 1463, ele sai da prisão e dirige-se para fora da cidade. Surge então o episódio mais espetacular da sua vida: ele desapareceu! Não sabemos quando, como ou onde morreu, porque a partir do dia em que sai da prisão nunca mais foi visto ou, pelo menos, os registos não chegaram até aos nossos dias. François Villon simplesmente desapareceu da face da Terra. Mas, uma coisa é certa: quando a morte o encontrou, de certeza que o mandou para fora deste mundo aos pontapés!

Tal como Beethoven, Lord Byron ou Percy Shelley, a beleza que François Villon deixou ao mundo teve origem a partir da sua tragédia. Ele bebeu os venenos da taça da vida, e quando a taça ficava vazia simplesmente dizia: “encham novamente, que venha mais!”. Villon é o melhor e o pior do ser humano, ele é a derradeira definição da vida humana.

Fundador
Administrador

Mensagens : 1615

Ir para o topo Ir para baixo

François Villon Empty Re: François Villon

Mensagem por Fundador 23rd abril 2011, 22:19

François Villon Francois_Villon

François Villon, pseudônimo de François de Montcorbier ou François des Loges (Paris, 1431 ou 1432 e desaparecido em 1463) foi um dos maiores poetas franceses da Idade Média. Ladrão, boêmio e ébrio, é considerado precursor dos poetas malditos do romantismo.

As únicas fontes de informação sobre Villon que chegaram até nossos dias são, além de seus próprios escritos, seis documentos administrativos referentes a seus processos (descobertos por Marcel Schwob no fim do século XIX). Deste modo, é preciso separar cuidadosamente os fatos verídicos de sua vida das lendas criadas a seu respeito, muitas vezes favorecidas pelas interpretações que ele mesmo fazia como ator de suas peças.

Nascido no período de ocupação inglesa na França e órfão de pai, é enviado para ser criado, por razões desconhecidas, por Guillaume de Villon, de Saint-Benoît-le-Bétourné, que se tornará mais que um pai para ele e o mandará estudar na Faculdade de Artes de Paris para que ele se tornasse um clérigo. Em 1452, torna-se mestre em artes, em uma época bastante conturbada onde um grande número de diplomados vivia na miséria. Logo começa a ter problemas com a polícia, no fundo causados pela decisão do rei Charles VII que resolve suspender os cursos da faculdade entre 1453 e 1454. Villon se desencanta pelos estudos e passa a preferir a aventura. Sobre esse período, ele relata mais tarde em seu Testamento:

Mais quoy ! je fuyoië l'escolle
Comme fait le mauvaiz enffant
En escripvant cette parolle
A peu que le cueur ne me fent!


Em 1455, envolve-se numa briga e fere mortalmente o padre Philippe Sermoise. Acredita-se que por uma rivalidade amorosa. Ferido nos lábios, Villon é obrigado a fugir de Paris. Graças ao seu status de pertencer ao clero, a sua ficha limpa anterior e ao perdão que obtém de Sermoise em seu leito de morte, consegue autorização para retornar em 1456. Neste mesmo ano, na noite de Natal, participa de um roubou no colégio de Navarre com alguns conhecidos, furtando um cofre repleto de moedas de ouro.

Antes de fugir, Villon compõe Le Lais, como um presente de adeus a seus amigos, anunciando sua intenção de seguir para Angers, deixando claro que sua fuga teria sido causada por um desespero amoroso. Um de seus "amigos", Guy Tabarie, é preso e confessa a participação de Villon no caso do roubo, confirmando ainda a intenção deste em fazer um novo furto. Não há informações a seguir sobre seu paradeiro, mas certamente prosseguiu sua marcha pelo vale do Loire.

É visto novamente em Blois, estando aí provavelmente desde dezembro de 1457, na corte de Charles d´Orléans, príncipe-poeta e mais tarde pai de Louis XII. No manuscrito onde Charles registra seus poemas e de sua corte, encontram-se três poemas assinados por Villon (provavelmente escritos ali por ele próprio). O mais longo deles celebra o nascimento Marie d'Orléans em 19 de dezembro de 1457, filhas de Charles e Marie de Clèves. Esta manuscrito ainda contém a Ballade des contradictions e a Ballade franco-latine, uma sátira de Fredet, o favorito de Charles. Isso faz com que ele seja acusado de mentiroso e expulso da corte de Blois.

Em outubro/novembro de 1458, Villon tenta em vão retomar o contato com seu antigo mecenas, aproveitando de sua vinda a Vendôme para assistir ao processo de traição de seu genro Jean II d'Alençon. Ele faz com que seja entregue a Charles a Ballade des proverbes e a Ballade des Menus Propos, mas não é recebido de volta à corte.

Encontra-se a seguir preso por razões obscuras durante o verão de 1461 na prisão de Meung-sur-Loire), onde provavelmente compôs o Épître à ses amis e o Débat du cuer et du corps de Villon. É libertado alguns meses mais tarde durante uma visita de Louis XII em companhia de Charles d´Orléans à cidade e neste meio tempo perde sua ligação com o clero. Compõe então a Ballade contre les ennemis de la France com o interesse de chamar a atenção do rei sobre este fato, assim como Requeste au prince, à Charles d´Orléans. Como os dois rejeitam seu pedido, decide voltar para Paris.

Pode ter composto a Ballade du bon conseil neste retorno a Paris, mostrando-se como um delinquente regenerado e depois a Ballade de Fortune, que exprime sua decepção com o universo parisiense dos letrados que o rejeita.

Aparentemente é nesse período de andanças por Paris que ele teria escrito sua obra-prima Le testament (com algumas baladas possivelmente anteriores).

É preso novamente em 2 de novembro de 1462 por um roubo insignificante e processado pelo caso anterior do roubo no colégio. Obtém a liberdade sob condição de reembolsar a sua parte no roubo, 120 libras, uma quantia considerável para a época. Este período de liberdade tem curta duração. No fim do mesmo mês, Villon se envolve em uma briga na qual um notário da igreja que participou do interrogatório de Guy Tabarie é ferido. Ao que parece, seu amigo Robin Dogis teria provocado os homens do clero, enquanto Villon tentava separar a briga. Villon é preso no dia seguinte. Desta vez, ele não pôde escapar da justiça: perde seu estatuto clerical, sofre na prisão a tortura da água e é condenado à forca.

Enquanto aguarda em sua cela a decisão do parlamento de Paris, diante do qual ele apresenta uma apelação da sentença, escreve o Quatrain e a Ballade des pendus (Balada dos enforcados), poemas que não tem um registro preciso, mas que costumam ser ligados a esse momento dominado pelo medo.

Mas Villon tem sorte: em 5 de janeiro de 1463 a pena é reduzida a 10 anos de banimento da cidade graças, mais uma vez, à acção de seu padrasto. Ele escreve então a balada jocosa Question au clerc du guichet e o grandiloquente poema Louange à la cour, seu último texto conhecido. Nesse dia sai da prisão e a partir de então não existem mais traços deixados por ele, restando apenas sua lenda.

Fundador
Administrador

Mensagens : 1615

Ir para o topo Ir para baixo

Ver o tópico anterior Ver o tópico seguinte Ir para o topo


Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos