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O Niilismo Europeu

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Mensagem por Fundador 19th março 2012, 14:38

Introdução

Para compreendermos o niilismo europeu precisamos de andar para trás, estudar um pouco a história do pensamento europeu nas suas origens, ao bom estilo de um caranguejo mineiro com vontade de conhecimento. Para este pequeno escrito recorro principalmente aos pensamentos do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que com a sua máxima «Deus está morto!» resumiu de forma excelente o vazio das ideias modernas, o vazio do ser humano moderno. Começo com o nascimento do pensamento socrático-platónico, o pensamento que rege o homem europeu, e com o «nascimento» de Deus. Depois passamos para a «morte» de Deus, isto é, a morte dos fundamentos metafísicos. Finalmente, terminamos de pernas para o ar, no vazio, no estado atual das coisas, no niilismo passivo que tomou conta da Europa e de toda a civilização ocidental. De salientar que prefiro, ao longo do escrito, limitar-me à Europa; a civilização ocidental é apenas um produto da grande Europa.

1. Os deuses, Sócrates e Platão

A natureza pode parecer terrível aos olhos do Homem, mas em si mesma não possui a qualidade «boa» ou «má». Uma trovoada, um terramoto, uma seca severa, tudo isto pode parecer terrível aos seres humanos, daí que para explicar todos estes fenómenos nada melhor do que se criar alguns deuses. Com os deuses temos explicações, um fundamento para a falta de sentido primordial, um reconforto; alguns sacrifícios humanos e, com alguma sorte, temos chuva. A chuva sempre foi o mais importante para o Homem – não é de admirar que os deuses da chuva, na mitologia de muitos povos, sempre foram os mais importantes. A agricultura mudou completamente a vida da Humanidade. Com ela deixamos de caçar animais, deixamos de correrias loucas; passamos a ter comida sem esforço, sem correr perigo de vida. Os deuses que criamos eram fortes, poderosos, egoístas. Queriam eles sangue e orações constantes, e para isso lá estava o sacerdote. A invenção dos deuses deu-nos esse asceta que muito lucrou com a situação, pois ganhou um grande poder na sociedade, está agora presente em todos os momentos mais importantes da vida dos homens: no nascimento, no casamento, na morte.

Esses deuses que eram o orgulho dos povos, que os ajudavam a vencer guerras, que não hesitavam em destruir cidades e matar todos os inocentes nelas presentes, que queriam sangue humano e que provocavam grandes horrores, sofreram uma grande modificação. Por quem? Pelos judeus. Os judeus, uma raça verdadeiramente aristocrática, culta, bela, amante de poder e sensualidade, destruiu o seu Deus poderoso e substituiu-o por um novo Deus, o amor em «pessoa», um Deus misericordioso, que atende as preces dos mais humildes. Como? Sim, Deus foi castrado. Isto aconteceu devido ao perigo dos judeus desaparecerem como povo, devido ao poderio babilónico e romano, que fez com que eles, nessa altura escravos e já vencidos, utilizassem truques psicológicos para vencer. Daí serem os judeus um povo de primeira ordem, pois criaram algo de novo, nunca visto; venceram sem utilizar as armas. De deuses passamos à ideia de apenas um Deus, de um Deus poderoso passamos a um Deus… humilde! Esse é o Deus da populaça, o Deus dos mais fracos, o Deus dos que mais sofrem. Mais tarde, os grandes deuses gregos e romanos foram «mortos», erradicados pela consequência maior desse disparate judeu: o Cristianismo. Essa nova religião, que nasceu de escravos e homens falhados, é a pior criação da Humanidade: os poderosos, belos, sensuais, orgulhosos, senhores de si, criadores, foram negados; em seu lugar foram afirmados os escravos, feios, humildes, últimos na hierarquia, falhados, coitados, pobres. Mas que grande inversão da palavra «bom»! Os bons sempre foram os aristocratas, guerreiros, os melhores, mas o cristianismo chama esses de maus, e em seu lugar, no lugar dos bons, coloca aqueles que eram os maus, que são a escória da Humanidade. Esta inversão de valores, criada pelos judeus, serviu muito bem à religião dos escravos: com ela a Igreja conseguiu dominar a Europa durante muitos séculos, à custa de um grande mentira.

Um pouco mais atrás, no século V a.C., na gloriosa Grécia Antiga, os deuses reinavam com poder, eram o orgulho de todos os gregos, assim como Aquiles, guerreiro belo, forte e valente. Os gregos eram homens instintivos, não conheciam ainda a Razão, isto é, ainda não colocavam a Razão acima do corpo. Um homem percebeu isto: Sócrates. Esse filósofo era um homem de andar na rua, e um homem de muitas perguntas. Ele percebeu que os seus conterrâneos não sabiam muito bem o que faziam, que só ligavam aos ditames do corpo, que faziam tudo sem pensar duas vezes. Sócrates começou então a desvalorizar os deuses e a exigir que os gregos respondessem a tudo utilizando a Razão. Com esse filósofo vagabundo nasce a Razão na Grécia Antiga. Os gregos passaram a ver o pensamento como superior aos instintos, ou seja, a Razão em primeiro lugar e só depois a satisfação dos instintos. É com Sócrates que nasce a tirania contra os instintos, é com ele que nasce a curiosidade inteletual que tudo quer saber, que para tudo quer explicações. Depois de o corpo ser negado, só faltava todo o mundo ser negado; Platão, o melhor discípulo de Sócrates, encarregou-se disso. A paixão ao raciocínio do seu mestre pareceu-lhe uma ideia tão boa que este começou a dizer que aquilo que os sentidos captavam, a única realidade até àquela altura para os gregos, era imperfeito e falso. Chamou-lhe «mundo sensível» (ou «mundo aparente») e criou na sua mente um outro mundo, o «mundo verdadeiro» (ou «mundo inteligível»). Para Platão, o «mundo verdadeiro» só era acessível pela Razão, pela pureza de pensamentos, pelas mentes brilhantes como a sua. O «mundo sensível», esse, foi negado e visto como inferior ao «verdadeiro». O que aconteceu? A realidade foi desvalorizada e um mundo fictício, criado por Platão, foi colocado em primeiro lugar.

Os grandes deuses foram negados, o poder do Deus judeu foi-lhe retirado, os instintos passaram a ser vistos como algo de «mau» e o pensamento como algo de «bom», e o pior de tudo, a realidade, a Grande Realidade, passou a ser intitulada de «mundo sensível» e criou-se um novo mundo absolutamente irreal e falso, a que Platão chamou de «verdadeiro». A realidade foi dividida em duas! Palavras bonitas nasceram, como «justiça», «pureza», «verdade», «Bem», «mundo verdadeiro», «felicidade». O vagabundo Sócrates e o ex-escravo Platão destruíram o amor aos instintos e negaram a realidade.

2. A morte de Deus

Foram séculos de «moralidade à força». O Cristianismo, a religião dos escravos, dominou a Europa durante toda a Idade Média. As hierarquias foram mantidas, porque eram a base do poder dos sacerdotes cristãos. O truque consistiu na ideia de «pecado»: com esse conceito, algo desconhecido na Natureza, os padres cristãos tinham todo o poder sobre a plebe, mas também, e mais importante, sobre os poderosos da época – educação de príncipes por sacerdotes, reis com confessores privados, uma paixão pela humildade e uma absoluta rejeição da satisfação dos instintos. Foram mil anos de demência, em que o animal humano foi domesticado. Nessa loucura total, tudo o que era terreno era visto como «diabólico», o «Reino dos Céus» era o objetivo. O sexo, a alegria, o orgulho, a satisfação dos instintos, a doce vingança, a auto-afirmação… tudo «diabólico»! Nesta podridão generalizada reinava o sacerdote cristão, esse Grande Parasita!

Chega então um dos grandes períodos da Europa, o Renascimento. Consistiu unicamente na desvalorização dos ideais cristãos, na «volta aos antigos». No entanto, poucos perceberam isso. A corrupção cristã tornou-se tão evidente que, com algum dinheiro, era possível comprar a «remissão dos pecados». Um monge alemão, Lutero, apercebeu-se dessa corrupção, e restaurou a Igreja sob o signo do Protestantismo. Surge como resposta a Contra-Reforma, que tinha como único objetivo manter o domínio católico na Europa. E assim foi restaurado a doença do Cristianismo! O que aconteceu? Os homens renascentistas tinham colocado o Homem, mais uma vez, no centro do mundo. A força, o viril, o belo, a alegria, a satisfação do corpo, a arte centrada na afirmação do «mundo sensível» de Platão estava em grande. Os próprios papas eram mais «gregos pré-socráticos» do que cristãos. A Humanidade estava mais uma vez salva, o Cristianismo e os seus ideais doentios estavam a morrer. Mas Lutero, esse sacerdote ressentido (como todos os sacerdotes), queria o poder, queria desvalorizar a realidade mais uma vez, e considerou tudo isso como «vícios», «pecados», «obra do Diabo». A Igreja Católica, para manter o poder, teve de se conter, de não abusar do poder, de se domesticar. E assim perdeu-se a grande época europeia, os grandes homens desapareceram.

Surge o Iluminismo, uma espécie de «cristianismo ultra-liberal». Como? Sim, ao considerar que todos os homens são iguais, o Iluminismo apenas recupera a ideia cristã, embora «Deus» seja substituído pelo «Estado». Surge também nele o ideal socrático, o ideal de conhecimento, o ideal de «mundo verdadeiro». No processo as hierarquias foram abolidas, mas a moral judaico-cristã foi mantida. O que acontece é que os sacerdotes cristãos perderam o poder, pois só o tinham com as hierarquias. E que interessa aos sacerdotes cristãos que a moral seja mantida? Nada, porque a moral era apenas um instrumento para obterem o poder, aquilo que eles verdadeiramente querem. A Revolução Francesa é a vitória final da plebe, que tem como consequência o Liberalismo. O engraçado nisto tudo é que os cristãos tanto falaram na «igualdade entre os homens» que essa ideia acabou por vencer, para sua grande infelicidade, pois com essa ideia apenas queriam o poder. Esta comédia hilariante só perde a graça porque os cristãos, ao perderem o poder, levaram consigo os poderosos. Quem reina agora é a plebe, os últimos na antiga hierarquia, e com a plebe toda a grandeza é destruída.

Com tudo isto ocorreu a «morte» de Deus. O que significa dizer que Deus morreu? Significa que o absoluto, o «Reino dos Céus», a luz do mundo, é uma ideia já sem valor. O Iluminismo conservou a moral, mas rejeitou os ideais platónicos herdados pelo Cristianismo. Os ideais extra-terrenos da religião cristã foram anulados, foram desmascarados. Durante muitos séculos Deus era o fundamento dos valores, era a origem da organização social europeia, era a verdade, a realidade última. O Iluminismo, Enciclopedismo, Darwinismo e a Revolução destruíram esse conceito que oferecia um sentido para o mundo, mas a moral permaneceu. E essa moral maldita, essa moral de escravos, destrói a Europa lentamente.

3. A falta de sentido

A morte de Deus implica a morte do «mundo verdadeiro». Essa ideia falsa, criada por Platão, contribuiu para que atualmente falte um sentido ao Homem. Como assim? Como Platão dividiu a realidade em duas metades, uma «aparente» e outra «inteligível», ao abolirmos a segunda também a primeira sucumbe. Tanto o «mundo verdadeiro» como o «mundo sensível» foram abolidos, porque o pensamento do homem moderno está fundamentado nessas duas «realidades». Ou seja: é impossível matar Deus sem matar também a realidade física. O erro de Platão lançou a humanidade na desgraça durante séculos, o Renascimento salvou a Humanidade ao destruir a moral judaico-cristã, a Contra-Reforma salvou essa moral, o Iluminismo matou Deus e conservou a moral decadente. Com Deus devia ter morrido a sua moral, mas ao ser mantida provoca o niilismo europeu.

A plebe hoje governa apelidando os seus membros de «bons», enquanto apelida os poderosos de «maus»; os políticos e os amantes da guerra são vistos como os «maus», o povo e os pacíficos são os «bons»; a auto-afirmação é negada, prefere-se a humildade; a compaixão e a solidariedade são valores «bons», o egoísmo é «mau»; promove-se a igualdade, quer-se extinguir as diferenças, quer-se a paz na Terra… mas que Cristianismo doentio! Tudo isto é cristão, tudo isto faz parte da moral judaico-cristã, uma moral que sobrevive sem o seu fundamento, que é Deus. A maioria são ateus, mas no fundo todos são cristãos. Sem Deus esta moral não pode ser mantida, porque ela nasceu de Deus e ele já morreu.

Com tudo isto falta o sentido, caminhamos sem saber para onde vamos, estamos de pernas para o ar porque falta o solo. Só um regresso aos ideais do Renascimento pode salvar o homem europeu, mas para isso a moral tem que ser abolida, pois com ela presente é impossível destruir o «mundo inteligível» e resgatar o «mundo sensível». Sendo assim, o que é bom? Os instintos, o orgulho, a alegria, a saúde, a dureza, a guerra, a coragem, o egoísmo, a virilidade, a hierarquia… os grandes valores greco-romanos e renascentistas. O que é mau? A compaixão, a solidariedade, a «igualdade entre os homens», a humildade, a cobardia, o feminismo, a doença, a piedade. Só com o desaparecimento da moral dos escravos pode o niilismo ser extinto.

O homem moderno tem origem nesses erros e contra-sensos psicológicos. Este é o «último homem», o niilista passivo. Evita todo o tipo de desprazer, evita o sofrimento e a dor, e com isso condena a vida. Na natureza não existe «felicidade» e «infelicidade»; não existe «verdade» e «mentira»; não existe «bem» e «mal»; não existe «verdadeiro» e «falso»; não existe moral. A vida, em si, não conhece esses conceitos humanos, eles não existem individualmente, nem existem juntos, nem existem de qualquer maneira. Evitar o sofrimento é evitar a vida. O que é o sofrimento? É apenas resistência aos impulsos, à vontade de poder inerente a todo o ser vivo. Apelidar de «mau» as resistências é cobardia, é um truque psicológico que os fracos utilizam para suportar a existência. O que é a felicidade? É a sensação de que o poder aumenta, mesmo que no processo enfrentemos muitas resistências. A afirmação dos instintos, das diferenças, da individualidade, é a saída para o niilismo europeu. O homem que oferece um sentido ao mundo, um sentido só para si e não para o rebanho humano, é o grande homem, aquele que supera o vazio existencial.

Conclusão

Ao abolirmos o «mundo verdadeiro» abolimos também o «mundo sensível». A morte de Deus implicou uma desvalorização das verdades absolutas de outras épocas, mas ao destruir essas «verdades» decadentes o europeu esqueceu-se de criar novas «verdades» que afirmem a realidade física, a única realidade que existe. O colapso da metafísica equivale igualmente ao colapso da moral, da ética e dos valores. Ao serem abolidos esses valores, o mundo deixa de ser dualista e torna-se aquilo que é – realidade física em perpétuo devir. A realidade é assim resgatada. Segue-se a sua afirmação: a criação de valores condizentes com o sentido da realidade, fundamentados na afirmação do corpo e dos seus instintos. É uma tarefa não para todos, mas apenas para alguns. A moral da «multidão» deve ser rejeitada pelos novos filósofos, homens que após a morte de Deus devem atribuir as mais altas virtudes a tudo o que é terreno. A ideia de «igualdade», após o colapso dos valores cristãos, deve ser substituída pela desigualdade, pois só assim os grandes homens têm condições para crescer.

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